O chefe de divisão para os Assuntos Pan-Africanos no Serviço Europeu de Acção Externa, Nicola Bellomo, defendeu esta terça-feira, 1 de Novembro, uma acção multidimensional contra o terrorismo em Cabo Delgado, norte de Moçambique, acrescentando que o extremismo violento não se vence apenas no plano militar.
“O terror não se vence apenas com soldados e armas, há que ganhar a paz em paralelo com o apoio à segurança [em Cabo Delgado]. Temos trabalhado de perto com o Governo moçambicano no desenvolvimento social e económico, assistência humanitária, educação, nutrição, abastecimento de água e mitigação do impacto das mudanças climáticas”, afirmou Nicola Bellomo, que falava sobre o tema “O combate ao terrorismo na África Subsaariana”, no âmbito da 42.ª Sessão da Assembleia Parlamentar Paritária ACP-UE, que decorre em Maputo.
“Enquanto as medidas de segurança continuam críticas para a contenção da ameaça terrorista, tornou-se evidente que não há quantidade de força que vá mudar fundamentalmente o panorama do terrorismo em África”, afirmou.
O sucesso da luta contra o terrorismo, prosseguiu, passa pela remoção das causas aproveitadas pelo extremismo violento para a expansão das suas actividades no continente africano. Nesse sentido, defendeu a protecção da juventude face ao risco de radicalização e recrutamento por grupos armados.
Nicolas Bellomo apontou ainda a boa governação, respeito pelos direitos humanos e políticas de integração comunitária como essenciais no combate ao terrorismo e enfatizou que o radicalismo exige cooperação internacional, dada a mobilidade das células terroristas e o carácter transnacional do seu financiamento.
Um dos exemplos de sucesso no combate ao extremismo, continuou, é a cooperação entre as forças governamentais moçambicanas, do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Cabo Delgado.
“Essa coordenação permitiu que Moçambique registasse uma das maiores reduções de mortes pela acção de grupos armados no mundo”, acrescentou.
A província de Cabo Delgado tem sido aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano com apoio do Ruanda e da SADC, libertando distritos junto aos projectos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
Em cinco anos, o conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de quatro mil mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.