A Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Universidade Eduardo Mondlane realizaram esta quarta-feira, 19 de Outubro, em Maputo, um workshop alusivo ao Dia Mundial da Alimentação comemorado a 16 de Outubro, onde foram debatidas as melhores formas para se garantir a segurança alimentar.
No workshop, coube à União Nacional de Camponeses (UNAC) fazer a primeira apresentação, na qual manifestou preocupações dos pequenos produtores, referindo-se à soberania das sementes e insumos de baixo custo como factores para o aumento da produção.
“Queremos que haja soberania das sementes, ou seja, direitos dos camponeses sobre elas, permitindo a sua produção, conservação, troca e venda entre famílias, vizinhos e comunidades. Queremos também que os insumos agrícolas sejam de baixo custo, permitindo a reciclagem de nutrientes da terra e independência em relação aos insumos corporativos”, disse Inácio Manuel, coordenador na União Nacional dos Camponeses, tendo acrescentado que a classe almeja ainda “políticas públicas direccionadas directamente para o pequeno produtor, bem como autonomia na produção, evitando amarras aos produtores de insumos”.
Inácio Manuel manifestou ainda preocupação quanto ao sistema informal dos pequenos produtores, que “produzem a maior parte da alimentação consumida em Moçambique, sendo que, apesar disso, o camponês continua a ser esquecido”. E acrescentou que constitui preocupação também “a crescente tendência nas políticas actuais de produção, que valorizam, de forma excessiva, o agro-negócio em detrimento da produção camponesa”.
Ainda no mesmo workshop, que contou com a presença de estudantes, de docentes e da vice-reitora da Universidade Eduardo Mondlane, o docente da Faculdade de Agricultura e Engenharia Florestal, Luís Artur, explicou que “os actuais sistemas agro-alimentares encontram-se desajustados, são ineficientes e estão a levar o mundo ao colapso, devido aos problemas ambientais, sociais e económicos graves”, destacando que “os sistemas actuais não estão a responder a questão de segurança alimentar, segurança nutricional, saúde e bem-estar, impactando, por isso, negativamente, nos recursos naturais”.
Para reverter o actual cenário, Luís Artur propõe que “sejam feitas escolhas responsáveis de práticas de lavouras mais amigas do ambiente, das sementes e sistemas de água na agricultura e dos pesticidas e adubos.”
Foram também temas de debate no evento o papel da agricultura na promoção de alimentos nutritivos, o aumento do acesso a dietas saudáveis (apresentado pela Associação Nacional de Segurança Alimentar), sugestões para o crescimento económico inclusivo e redução das desigualdades (apresentado pelo Núcleo de Estudantes da UEM). Neste último foram recomendadas algumas medidas para acabar com as desigualdades no País, como empoderar os jovens e as mulheres e promover o empreendedorismo, incentivar o igual acesso aos recursos naturais e diminuir os impostos sobre produtos e serviços mais consumidos pela população.
O workshop teve como lema “Desafios dos quatro melhores: melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e vida melhor”.