Vários economistas disseram esta quarta-feira, 12 de Outubro, à Lusa, serem exequíveis as metas de crescimento económico de 5% e inflação de 11,5% que o Governo projectou para 2023, mas alertaram para o contexto de incerteza a nível mundial.
Os números fazem parte da proposta de Orçamento de Estado (OE) que o Governo aprovou na última semana para submeter em breve à Assembleia da República.
Estrela Charles, economista e investigadora do Centro de Integração Pública (CIP), destacou o facto de Moçambique começar a exportar gás natural da bacia do Rovuma nas próximas semanas. “Prever 5% [de crescimento do PIB] é alcançável”, realçou, assinalando que o Executivo conta com uma forte expansão das exportações.
“Para 2023, o Governo tem uma expectativa de exportações de 8,8 mil milhões de dólares face a uma previsão de cinco mil milhões de dólares para este ano, o que configura um salto significativo”, enfatizou a economista.
Estrela Charles defendeu maior clareza na indicação dos sectores que vão puxar pela economia, para que os números que o Governo aponta tenham maior credibilidade. “É importante ver que sectores é que vão fazer com que a produção aumente realmente até 5%”, insistindo que um eventual crescimento estará “concentrado no gás natural”.
Sobre a meta de 11,5% de inflação média anual, a investigadora também considerou a previsão aceitável, dado que não se vislumbra uma redução de preços dos produtos que conheceram um agravamento.
“O que o Governo está a querer dizer ou transmitir é que nós vamos continuar a ter uma inflação muito elevada, com um nível muito elevado de preços, que tem que ver com uma inflação importada devido à nossa vulnerabilidade na importação de bens de primeira necessidade”, explicou à Lusa.
Para a economista, o Banco de Moçambique já sinalizou que o País enfrentará uma inflação superior a dois dígitos, ao prever uma redução das reservas internacionais líquidas para 2,9 mil milhões de dólares, para cobertura de dois meses de importações, face aos 3,9 mil milhões de dólares deste ano.
“O que o Banco de Moçambique está a dizer é que, em 2023, nós não teremos reservas para usar e estabilizar a taxa de câmbio e, muito provavelmente, teremos um nível muito elevado de preços e uma taxa de câmbio elevada”, explicou.
Com uma menor injecção de moeda estrangeira no mercado, prosseguiu, o País terá maiores dificuldades para conter o custo das importações e deter a espiral inflacionária no mercado interno.
Por seu turno, o economista Elcídio Bachita também considerou idóneos os indicadores assumidos pelo Governo, apontando igualmente para o início das exportações de gás natural do Rovuma e vislumbrando um aumento da procura de carvão na Europa, devido à guerra na Ucrânia.
“Este processo de produção e exportação de gás natural do Rovuma, no próximo ano, poderá resultar em receitas fiscais para a tesouraria nacional e vai permitir que o Estado tenha recursos para financiar a economia”, enfatizou.
Elcídio Bachita considerou ainda que o reatamento da assistência financeira do Fundo Monetário Internacional ao País e a implementação de medidas de estímulo à economia poderão ter um impacto visível.
O interlocutor classificou como provável a retoma dos projectos de gás natural da TotalEnergies na província de Cabo Delgado, Norte do País, suspensos em 2021 na sequência de ataques armados, o que teria também reflexos positivos.
Em relação à taxa de inflação média anual, Bachita sublinhou que Moçambique está exposto à volatilidade dos preços dos alimentos e combustíveis no mercado internacional. “O País depende fortemente de importações de combustíveis e também de produtos alimentares, como o arroz, óleo e trigo, e isso acaba influenciando também os preços a serem praticados internamente”, detalhou.