O mercado primário accionista é um dos principais segmentos do mercado financeiro, onde tipicamente empresas procuram angariar capital, tendo em vista, por exemplo, o financiamento da expansão das suas actividades.
A dinâmica do mesmo baseia-se na transferência das poupanças dos aforradores ou investidores que detêm liquidez ou capital (particulares, empresas, veículos de investimento, etc.) para entidades com necessidades dessa liquidez ou capital, tornando estes investidores em novos accionistas.
Neste mercado, os perfis predominantes dos investidores são de investidores que tomam e aceitam riscos. Podem existir dentro deste grupo investidores com perfil de risco moderado, que normalmente procuram um equilíbrio entre a preservação do capital e a rentabilidade e, geralmente, apresentam um portefólio relativamente equilibrado composto por instrumentos de capital (como Acções) e dívida (Obrigações).
Por outro lado, um investidor com um perfil mais arriscado, ou seja, com menor aversão ao risco, tende a preferir um portefólio com maior exposição a investimentos de maior risco, sejam acções, fundos de investimentos, derivativos, commodities, etc.
Um princípio muito defendido por vários investidores e especialistas do mercado de acções é que, para assegurar uma boa gestão de portefólio, é mais importante o tempo que o investidor está investindo no mercado – “Time in the Market” – e não tanto procurar o tempo acertado para tomar as decisões de investimento ou desinvestimento – “Timing the Market”.
Existem vários estudos que demonstram que um portefólio de acções razoavelmente diversificado, no longo prazo, terá rendimentos superiores comparado com portefólios pouco diversificados e geridos activamente, de modo a identificar oportunidades de especulação, alterando regularmente as suas posições.
Em economias mais desenvolvidas, os investidores mais sofisticados, que gerem somas avultadas de fundos (como fundos de pensões, fundos de investimento, fundos soberanos, etc.), tendem a participar no mercado de forma mais activa e informada, tomando as suas decisões com base em análise fundamental (análise de demonstrações financeiras, indicadores económicos, e outros) e análise técnica (com base na análise de gráficos do comportamento do preço e do volume dos instrumentos financeiros).
É mais importante o tempo que o investidor está investindo no mercado – “Time in the Market” – e não tanto procurar o tempo acertado para tomar as decisões de investimento ou desinvestimento – “Timing the Market”
Importa referir que esta forma de investir tem por base a premissa de que os mercados não são eficientes, ou seja, os activos não reflectem o justo valor, espoletando oportunidades de arbitragem e captação de valor.
No entanto, este conhecimento é alcançado normalmente através da participação activa no mercado por longos períodos de tempo e envolve um entendimento profundo dos diferentes ciclos do mercado.
De acordo com informação estatística de vários mercados, o desempenho dos principais índices accionistas como, por exemplo, o índice norte-americano S&P 500, em períodos de crises financeiras, normalmente registam elevadas perdas de valor.
No entanto, nos períodos pós-crise, os mesmos índices tendem a recuperar o valor perdido e a valorizar acima dos níveis anteriores às crises, demonstrando assim que em termos cumulativos, a longo prazo, estes activos geram retornos positivos. Por exemplo, um investidor que tivesse investido no índice S&P 500 no período de 2011 a 2022, no qual o índice atravessou um período de crise com a pandemia da covid-19, em que este desvalorizou mais de 30%, teria tido uma valorização cumulativa superior a 250%.
O comportamento de “Timing the Market”, assenta em trocas constantes de posições e mudança do tipo de activos detidos pelo investidor, com base em previsões ou estimativas futuras do mercado, por vezes de curto prazo, como forma de gerar mais-valias.
No entanto, está comprovado que em mercados desenvolvidos esta estratégia dificilmente funciona, pois ninguém consegue prever se determinado momento é o momento ideal para tomar uma posição e se, no curto-prazo, o preço de determinado activo vai subir ou descer. Neste sentido, os conselhos da teoria financeira para um investidor que pretende acumular riqueza no longo-prazo com uma exposição controlada ao risco, prendem-se simplesmente com investir cedo e de forma regular, aumentando assim o horizonte temporal do investimento e reduzindo assim o risco do “market-timing”, procurando deter uma carteira de activos diversificada, com exposição a classes de activos com risco, de modo a aumentar o retorno esperado.
Paralelamente, o investidor deve manter-se atento e informado dos eventos económicos, financeiros, sociais e políticos, de modo a entender melhor os factores que impactam os mercados e tomar decisões cada vez mais informadas sobre as suas transacções. Localmente, o mercado de capitais moçambicano está numa fase de desenvolvimento, e o volume de transacções é ainda dominado por títulos de dívida, sobretudo obrigações do tesouro. O mercado accionista revela ainda pouca profundidade e não apresenta o dinamismo dos seus congéneres, contando com um número limitado de empresas cotadas e uma liquidez reduzida, não permitindo ainda tirar partido total de uma estratégia de composição de uma carteira bem diversificada com exposição a vários títulos.
No entanto, é expectável que este cenário se vá alterando à medida que o mercado se desenvolve e, com o crescimento e diversificação da economia, cada vez mais empresas entrarão no mercado de capitais, procurando angariar capital junto dos aforradores e investidores moçambicanos.