O Banco de Moçambique (BM) afirmou esta quarta-feira, 5 de Outubro, que o País precisa urgentemente de uma inflação baixa e estável como forma de criar um ambiente macroeconómico favorável ao investimento e ao crescimento económico ao longo do tempo.
Em Agosto, a inflação moçambicana acelerou para 12,1%, depois de ter atingido os máximos de 11, 77% em Julho.
Falando durante uma palestra direccionada para os estudantes de Economia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), o director do Departamento de Estudos Económicos do BM, Pinho Ribeiro, disse que uma inflação estável incentiva o investimento e favorece o crescimento económico sustentável ao longo do tempo, sobretudo dos países em vias de desenvolvimento, como Moçambique.
De acordo com o director, mantêm-se as perspectivas de aceleração da inflação no curto prazo, bem como a tendência de desaceleração a longo prazo, elucidando que a evolução dos preços nos mercados externos são o principal elemento que determina esta trajectória.
“A tendência de aumento dos preços nos mercados internacionais e o conflito entre a Rússia e a Ucrânia estão a ditar a revisão em baixa das perspectivas de crescimento mundial. Logo, para a economia mundial, fica claro que, em 2023, perspectiva-se uma redução 0,7 pontos percentuais, sendo que as economias que mais irão contrariar [este cenário] em termos relativos são as avançadas”, explicou Pinho Ribeiro.
“O País precisa urgentemente de uma inflação baixa e estável como forma de criar um ambiente macroeconómico favorável ao investimento e ao crescimento económico ao longo do tempo”.
Segundo o director, a revisão em alta da inflação no curto e longo prazo no País depende, sobremaneira, da revisão dos preços dos combustíveis e dos transportes semi-colectivos de passageiros.
“O comportamento da taxa de câmbio também determina a dinâmica da inflação e essa tem estado estável e está a amortecer e a conter os impactos do aumento dos preços dos bens importados”, acrescentou a fonte.
O Banco de Moçambique defende ainda o aumento da taxa de juro de política monetária para evitar o elevado aumento da inflação e assim proteger a economia nacional.
Recentemente, o Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique decidiu aumentar aquela taxa em dois pontos percentuais, passando de 15,25% para 17,25%.
Sobre a decisão, o director detalhou que a medida visa proteger o País da contínua volatilidade dos preços dos combustíveis e dos alimentos provocada pela guerra na Ucrânia e travar um agravamento acentuado de preços no mercado interno.
Através do aumento das taxas de referência, Pinho Ribeiro disse que o banco central visa travar uma maior circulação de dinheiro e controlar a tendência de aumento de preços.
“Como é habitual, o Comité de Política Monetária monitora sempre, e continuará a monitorar, a evolução dos riscos e incertezas associados a estas projecções e não hesitará em tomar as medidas correctivas necessárias”, enfatizou.
Pinho Ribeiro avançou que o regulador está focado no objectivo de conseguir que a inflação desça para menos de dois dígitos, contando com a perspectiva de uma redução dos preços de combustíveis e alimentos, a médio prazo, no mercado internacional.
Sem especificar a cifra, o interveniente revelou que existem fortes perspectivas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no País, associado aos seguintes factores: reabertura económica pós-covid-19, implementação do programa de reformas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e execução dos projectos energéticos em Temane e Rovuma nas províncias de Inhambane e Cabo Delgado, respectivamente.
Todavia, a fonte do Banco de Moçambique alertou para a existência de factores de risco que podem desviar a economia, com maior enfoque para o abrandamento da procura externa, a incerteza em relação ao ajuste dos preços dos bens a nível interno, enquanto, a nível externo, as incertezas são grandes devido à magnitude dos efeitos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
“O metical, comparado com outras moedas, é uma moeda apetecível, porque é mais rentável deter meticais do que deter outras moedas. Esta é, pois, a principal razão da apreciação da moeda nacional”
Falando na mesma palestra, Carlos Baptista, director do Departamento de Mercados e Gestão de Reservas do Banco de Moçambique, observou que as medidas da instituição têm permitido que a moeda moçambicana se mantenha “sólida e apetecível” face a algumas divisas estrangeiras, rejeitando a ideia de que o metical esteja “artificialmente valorizado”.
“O metical, comparado com outras moedas, é uma moeda apetecível, porque é mais rentável deter meticais do que deter outras moedas. Esta é, pois, a principal razão da apreciação da moeda nacional”, enfatizou Baptista.
A palestra promovida pelo Banco de Moçambique (BM) teve como tema “A Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação” e contou com a participação de grandes quadros do BM, assim como alunos e docentes da Faculdade de Economia da UEM.
Texto: Cleusia Chirindza