A activista social Graça Machel alertou esta segunda-feira, 12 de Setembro, na cidade da Praia, para os “riscos muitos grandes” da insurgência armada no Norte de Moçambique e pediu uma gestão “plena e completa” dos recursos, em benefício de todos.
“Logo no início, quando se começou a falar do gás, insistimos sempre que não deveria transformar-se numa ameaça, mas infelizmente os riscos são muitos grandes”, recordou a activista, que está na capital de Cabo Verde a convite do Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.
Graça Machel participou, no sábado, 10 de Setembro, em Tarrafal, ilha de Santiago, numa conversa com o chefe do Governo sobre questões de desenvolvimento, educação, igualdade de género e luta contra pobreza. Esta segunda-feira foi recebida pelo Presidente da República, José Maria Neves.
A antiga esposa do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, e viúva do líder histórico sul-africano Nelson Mandela, é ainda convidada especial do Instituto Pedro Pires para a Liderança (IPP) para conversar sobre os desafios da liderança feminina.
O evento acontece no dia do nascimento de Amílcar Cabral, em 1924 que, se fosse vivo, faria 98 anos (foi assassinado em 20 de Janeiro de 1973).
Instada a comentar sobre o conflito armado no Norte de seu país, disse que não é só a questão da insurgência, mas também da maneira como os recursos devem ser geridos.
“Com ou sem insurgência é preciso gerir os recursos com consciência plena e completa de que os mesmos são para servir todos e cada um dos moçambicanos”, defendeu, considerando que é preciso mecanismos para permitir que todos [os moçambicanos] possam beneficiar daqueles meios.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas, mais perto de Pemba, capital provincial, e na província de Nampula.
Há 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.