Pelo menos 900 mil pessoas na província de Cabo Delgado, no Norte do País, estão em risco de insegurança alimentar crónica, informou o Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN).
A ameaça é o resultado dos “choques” que têm afectado aquela província do Norte de Moçambique, com destaque para a violência armada que, desde 2017, obrigou milhares de pessoas a abandonarem as suas zonas de origem e meios de subsistência em busca de segurança.
No total, segundo a secretária executiva do SETSAN, Moçambique tem 1,4 milhões de pessoas em risco de insegurança alimentar, das quais 900 mil em Cabo Delgado.
“As intervenções dos parceiros concentram as suas acções para essas regiões onde temos maiores choques de insegurança alimentar”, observou Leonor Mondlane, em declarações à comunicação social à margem do Conselho Consultivo do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN).
Apesar dos desafios, segundo a responsável, no geral, a situação da insegurança alimentar em Moçambique melhorou, com a taxa a passar de 43% para 38% em crianças.
“Saímos de 43%, em 2014, em crianças menores de 5 anos de idade, para 38% actualmente”, detalhou Leonor Mondlane.
Os novos dados oficiais apontam para a situação no Norte do País como a mais crítica, com as províncias de Nampula (a mais populosa) a registar uma média de 46,7%, e de Cabo Delgado e Niassa, ambas com 45%.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas está a ser aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.
Desde Julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda, a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.