É comum ouvir-se dizer que os acidentes acontecem. De facto, alguns acidentes podem acontecer devido a circunstâncias indesejadas e incontroláveis. Por exemplo, mudanças bruscas das condições climáticas no decurso de um trabalho em altura, que recorre a uma escada num local aberto, provocando a queda do trabalhador e/ou danos no equipamento.
A maior parte dos acidentes ocorridos resulta de incumprimento das normas (actos inseguros) e/ou de condições de trabalho inadequadas (inseguras). Não obstante, a ocorrência de qualquer acidente de trabalho deve ser investigada pela organização. Mas por que razão é importante investigar os acidentes?
Entenda-se que um incidente de trabalho é uma ocorrência decorrente do, ou no curso do trabalho, que pode ou não resultar em lesões e problemas de saúde (1). Caso resulte numa lesão ou num problema de saúde podemos chamar-lhe de acidente.
O reporte e a investigação atempada de acidentes pode permitir que os perigos sejam eliminados e os riscos associados sejam minimizados o mais rapidamente possível. A investigação permite a prevenção de novos eventos adversos semelhantes, a prevenção de perda de negócio devido à interrupção/paralisação do trabalho, a ocorrência de custos com acções judiciais criminais e civis, a identificação de deficiências no controlo de risco, assim como a melhoria na moral e atitude dos funcionários em relação à saúde e segurança no seu posto de trabalho. Ou seja, se todos estiverem envolvidos no processo de decisão e constatarem que os problemas são resolvidos, os trabalhadores tornar-se-ão mais cooperantes na implementação de novas medidas de segurança.
É evidente que a investigação do incidente só é possível se houver o reporte do mesmo. Todavia, o reporte de incidentes tem sido um grande desafio para muitas organizações. Daí que urge a questão: porque é que os colaboradores não reportam os incidentes?
Um estudo sobre Higiene e Segurança no Trabalho em Moçambique, realizado em 2017, demonstrou que os colaboradores não reportam os acidentes por falta de conhecimento das normas, falta de responsabilidade e responsabilização, medo de repreensão, excesso de burocracia ou medo de dar uma má imagem.
Neste contexto, é importante desmistificar e esclarecer que a investigação de incidentes não é uma “caça às bruxas”, ou uma desculpa para disciplinar ou repreender os trabalhadores para atribuição de culpas. É, sim, um exercício metódico, transparente, factual e orientado para soluções, pelo que se faz necessário o uso de metodologias de investigação e análise da causa raiz do acidente (falha da qual todas as outras falhas surgem).
Após a investigação e determinação da causa raiz do incidente, deve-se comunicar os resultados da investigação e o plano de acções correctivas a todos intervenientes, que devem ser apropriadas à importância das consequências ou potenciais consequências dos acidentes ou das não conformidades encontradas. Por isso um plano de acção efectivo deve responder às seguintes questões:
O que fazer/que acção deve ser realizada? Qual o local onde a acção será realizada? Em que prazo deve ser realizada a acção? Quem será o responsável por implementar a acção? Como será a acção realizada? Qual é o motivo da realização da acção? E qual o custo da realização da acção?
Por fim, é crucial que sejam tomadas as devidas providências para assegurar que o plano de acção seja implementado e o seu progresso monitorizado.
- Norma ISO 45001:2015 (norma internacional de saúde e segurança no trabalho).