Alguns especialistas defendem que Maputo deve repensar diversas vertentes antes de decidir comprar combustível russo (que Moscovo promete ser a preço baixo), sugerindo que ‘o barato pode sair mais caro’, sobretudo num contexto em que o Ocidente e as instituições de Bretton Woods parecem estar mais inclinados a apoiar Moçambique no seu processo de desenvolvimento.
A Embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Linda Thomas, advertiu os países africanos a não comprarem combustível russo, sob pena de sofrerem sanções.
De acordo com a VOA, alguns especialistas dizem que Moçambique pode contornar esta situação, agindo em coordenação com a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) porque, individualmente, vai ser impossível evitar as sanções.
O investigador do Instituto moçambicano de Estudos Económicos e Sociais (IESE), Yasir Ibraimo, recorda que eventuais sanções dos Estados Unidos e da União Europeia podem ter um impacto severo na economia moçambicana.
Yasir citou o caso do Zimbabué, que vive, há anos, com sanções do Ocidente, por causa da expulsão de farmeiros brancos. “Tal situação teve um impacto severo na economia zimbabuena, e se a economia moçambicana experimentasse este tipo de sanções teria grande impacto”, realça.
Neste momento, diz Yassir, Moçambique está fortemente dependente da ajuda externa, sublinhando que o País é soberano, “mas é preciso ver que nem todos os moçambicanos estão a favor da forma como Moçambique se posicionou em relação ao conflito russo-ucraniano, pelo que se o País, como um todo, for alvo de sanções afectará todos os moçambicanos”.
Por seu turno, a economista Leila Constantino considera que a Rússia está a aliciar Moçambique com preços baixos de combustíveis e defende que Maputo deve fazer uma análise custo/benefício não só da vertente financeira, mas de muitas outras, principalmente quando se fala de cooperação com outros países, sobretudo aqueles que apoiam o Orçamento de Estado e diferentes projectos de desenvolvimento.
Constantino defende que, estrategicamente, e tendo em conta o facto de os principais parceiros de cooperação terem retomado o seu apoio ao Orçamento de Estado e a projectos que estão sendo desenvolvidos em Moçambique, “é importante considerar esta questão de comprar combustível russo, porque eu não creio que seja assertivo considerar esta vertente por ser combustível mais barato. Existem outros aspectos a considerar”.
Já o economista João Mosca considera que Moçambique é muito mais dependente dos países do Ocidente e de alguns países árabes ou de outras regiões, pelo que existe uma situação de equilíbrio em termos de o País poder optar por uma posição em prejuízo daquilo que são os seus principais parceiros, sendo também verdade que as ameaças dos Estados Unidos podem ser decretadas conforme os países.
Mosca refere que, no caso de Moçambique, existem alguns interesses importantes económicos internacionais, não só a questão do gás, como também de outros recursos naturais, e sobretudo a posição geo-estratégica moçambicana em termos do Oceano Índico.