Um investigador alertou esta quarta-feira, 10 de Agosto, que o crescimento exponencial da população em África, vista, muitas vezes, como uma oportunidade, é também um risco porque o continente não conseguirá empregar a juventude.
“Sim, queremos uma África que cresça depressa. Mas África, nos cenários actuais, pode não criar empregos suficientes para a sua população massivamente crescente. O desemprego – um potencial desestabilizador – é o grande desafio com que temos de lidar”, disse Jakkie Cilliers, líder do departamento de Futuros e Inovação Africana no Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla em inglês), sediado em Pretória.
Num debate organizado pelo ISS sob o tema “Como irão as convulsões globais afectar África?”, Cilliers apresentou um estudo do seu departamento em que são propostos quatro cenários possíveis para a ordem mundial, dependendo se o mundo caminha mais para o multilateralismo ou o regionalismo/nacionalismo, se se preocupa mais com sustentabilidade ambiental ou com o crescimento económico.
O estudo propõe um mundo sustentável, caminhando este para a sustentabilidade e o multilateralismo; um mundo do crescimento, no qual a grande preocupação é o crescimento económico e a globalização; um mundo dividido, em que há preocupações com o clima, mas também uma visão mais regional ou nacional; e um mundo em guerra em que o foco é o crescimento económico e a visão regional/nacional.
Perante qualquer um destes cenários, conclui Cilliers, “África não conseguirá criar empregos para a sua população crescente e, mesmo que melhore em todas as áreas, ficará ainda longe do resto do mundo, porque o resto do mundo crescerá mais depressa”.
“A minha preocupação preliminar é que, quando olhamos para a população crescente de África, ela não se traduz em nenhuma actividade económica, nem se traduzirá num futuro previsível”, vaticinou o especialista, argumentando que o continente está a formar jovens pouco qualificados, quando o mundo precisa exactamente do contrário, ou seja, de jovens altamente qualificados.
Para o responsável, África tem “excesso de capital humano e não é possível que o continente absorva toda essa juventude. Teremos de ter bolsas, esquemas de trabalho, teremos de ‘atirar tudo’ para resolver este problema e, ainda assim, continuaremos a ter instabilidade”, alertou.
África, com cerca de 1,3 mil milhões de habitantes, tem a maior taxa de crescimento populacional do mundo segundo a ONU, estimando-se que a população da África Subsaariana duplique até 2050.
Ainda segundo a ONU, independentemente das tendências futuras da fecundidade em África, o grande número de jovens africanos que atingirão a idade adulta nos próximos anos e terão filhos garante que a região desempenhe um papel central na formação do tamanho e distribuição da população mundial nas próximas décadas.
O debate de 10 de Agosto foi o primeiro de uma série organizada pelo ISS sobre o futuro de África. Os próximos serão sobre a relação de África com a Ásia, com o Ocidente e consigo mesma.