O preço do transporte de passageiros entre Moçambique e África do Sul, uma das maiores economias africanas, vai subir a partir de hoje, 1 de Agosto. Para quem faz o trajecto regularmente, o aumento justifica-se face à vertiginosa inflação.
“O aumento vai afectar as minhas contas, mas eles [os transportadores] têm razão, não há dinheiro. Tudo subiu em Moçambique, menos o salário”, referiu, à Lusa, Rosta Massingue, moçambicana que faz o trajecto há mais de 20 anos para visitar a família que vive na terra do “rand”, como é popularmente descrita a África do Sul entre os moçambicanos.
Sentada num autocarro com destino a Rustenburg, no terminal da baixa de Maputo, Rosta Massingue faz as contas e lamenta o aumento dos preços. Esta moçambicana começou a fazer viagens em 2001, quando o transporte custava 180 rands e, hoje, tendo de pagar 500 rands, cogita reduzir as visitas à sua família.
Com a subida dos preços dos combustíveis em Moçambique e também na África do Sul, a situação ficou “mais pesada” e “sufocante” para os transportadores, obrigando-os a aumentar 50 rands no custo das viagens, explica Francisco Mandlate, secretário da Mosata – Moçambique, África do Sul Transportes Associados.
“Nós tentámos resistir [à subida dos preços com a inflação global] por um tempo. Mas ficámos sufocados e tivemos de aumentar a tarifa”, refere o responsável.
A viagem de Maputo para Rustenburg subiu de 450 rands para 500 rands, enquanto da capital moçambicana para Durban subiu de 400 rands para 450 rands.
Por outro lado, viajar de Maputo para Joanesburgo passa de 350 rands para 400 rands e da capital moçambicana para Nelspruit há um aumento de 30 rands, passando de 200 rands para 230 rands.
Segundo a Mosata, que faz também viagens para o reino de Essuatíni (antiga Suazilândia), as receitas “baixaram drasticamente”, o que se agrava pelo facto de atravessarem fronteiras e movimentarem-se em países com preços diferentes.
“A subida devia ter sido de 100% para que as pessoas pudessem voltar à rotina normal de ganhos”, defende Marcos Abílio, motorista que faz a rota Maputo – Rustenburg, referindo que, ainda assim, a nova tabela “não vai compensar” os custos das viagens.
Antes da subida dos preços dos combustíveis em Moçambique, Marcos gastava cerca de 2500 rands para fazer uma viagem, mas, com a vertiginosa subida de preços, passou a gastar quase o dobro, ou seja, só para ir a Rustenburg o motorista precisa de cerca de 4200 randes.
“A pessoa que conduz tem de ser paga, também temos de pagar pelo combustível, pelo óleo e muitas outras coisas”, refere Marcos Abílio.
“Eles aumentaram pouco o preço do transporte, mas devido à falta de dinheiro parece muito”, refere Violeta Tamele, 47 anos, enquanto caminha, junto de outras duas mulheres, em direcção às lojas da baixa da cidade de Maputo para comprar capulanas e revender na África do Sul.
Violeta e as suas duas companheiras fazem três viagens por mês para vender capulanas em Komatipoort, na África do Sul, e mesmo que não tenha havido ainda um aumento das tarifas na sua rota, já conseguem prever o “caos” que será nas suas contas.
“Vai ser difícil. A situação vai afectar as minhas contas e vou ter de reduzir as viagens”, lamenta Zaveta António, que faz viagens há 12 anos para vender as capulanas.
Apesar da redução de receitas devido à subida do preço do combustível em Moçambique, os transportadores mantiveram o preço de viagens para Essuatíni para “poupar o passageiro que ainda tem de pagar pelo teste do covid-19” naquele país.
A nova tabela de transportes internacionais ocorre após as paralisações de 4 Julho, quando proprietários de autocarros e ‘chapas’ (ligeiros improvisados como transporte urbano colectivo em Moçambique) encostaram os seus veículos em protesto contra o aumento do preço dos combustíveis, provocando longas filas e confusão em algumas zonas da capital moçambicana.
A gasolina subiu de 83,30 meticais por litro para 86,97 meticais e o gasóleo passou de 78,97 meticais para 87,97 meticais por litro.
Em 2008 e 2010, o aumento do preço de transporte rodoviário, acompanhado do agravamento do custo dos bens e serviços essenciais, gerou revoltas populares nalgumas das principais cidades do País, resultando em confrontos com a polícia e destruição em alguns locais.