Os lucros dos milionários do sector da alimentação obtidos em duas semanas bastariam para responder “à crise de fome” na região da África Oriental, segundo um comunicado da organização humanitária Oxfam divulgado esta segunda-feira, 18 de Julho.
A organização não-governamental refere que a crise alimentar nos países da África oriental – onde milhões de pessoas enfrentam uma “alarmante” situação de fome – aumentou consideravelmente em regiões como a Etiópia. No país africano, a situação de fome é cinco vezes superior à média mundial no que diz respeito ao risco alimentar.
“Estima-se que, em cada 48 pessoas, morra uma na Etiópia, no Quénia e na Somália, onde se agrava a situação de seca, sendo que também se verificam os efeitos da guerra na Ucrânia que fez disparar os preços dos alimentos”, alerta a Oxfam.
O relatório “Profiting from Pain” (“Lucros da Dor”) da ONG, relativo ao período entre Março de 2020 e Março de 2022, conclui que “os milionários” do sector da alimentação aumentaram os lucros em 382 mil milhões de dólares.
Deste modo, refere a Oxfam, “menos de duas semanas de lucros seriam mais do que suficientes para financiar a totalidade do programa de recolha de fundos da ONU que pede 6200 milhões de dólares para a África Oriental”. Neste momento as Nações Unidas só conseguiram reunir 16% do valor que foi pedido.
Hanna Saarinen, responsável pelo secção de Política Alimentar da Oxfam, revelou que “se está a juntar uma quantidade monstruosa de riqueza no topo das cadeias (empresas) de distribuição de alimentos a nível mundial”, enquanto o aumento dos preços dos alimentos deixa milhões de pessoas sem comida.
Saarien pediu um novo sistema para “acabar com a fome” e instou os governos a mobilizarem os recursos para “prevenirem o sofrimento humano”. Neste sentido, acrescentou, “uma boa opção seria a tributação dos ‘super-ricos’, que viram disparar a riqueza até níveis sem precedentes nos últimos dois anos”.
Segundo a Oxfam, os habitantes da África Oriental gastam 60% dos salários em alimentação sendo que a região depende, de forma excessiva, de alimentos básicos importados.
Os alimentos e bebidas representam, na Etiópia, 54% do IPC (Índice de Preços de Consumo), uma valor altíssimo se comparado, por exemplo, com o que se passa no Reino Unido, onde o valor do mesmo índice é de 11,6%.
A organização não-governamental lamenta que “enquanto muitas pessoas, nos países ricos, lutam contra a inflação, nos países da África Oriental enfrentam directamente situações de fome e de pobreza”.
A Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD, sigla em inglês), bloco composto por oito países do leste do continente africano, alertou, no passado mês de Maio, que o número de pessoas que enfrentam fome na região está a aumentar devido à seca, atingindo, neste momento, 40,4 milhões de habitantes.