O líder do secretariado do Acordo de Livre Comércio em África defendeu ontem que o mesmo tem de beneficiar todos os sectores da população, sob pena de ser rejeitado pelos cidadãos e fomentar extremismos políticos.
“Temos de garantir que a implementação do Acordo de Livre Comércio em África (AfCFTA, no original em inglês) vai beneficiar todas as pessoas, garantindo benefícios inclusivos, senão assistiremos ao mesmo que se passou noutras partes do mundo, em que o facto de os acordos comerciais beneficiarem apenas as grandes empresas levou a uma rejeição da própria ideia dos tratados internacionais”, disse Wamkele Mene na sua intervenção na Cimeira ‘Africa Investment Risk’, realizado em Londres, Reino Unido.
O secretário-geral do acordo referiu que “a rejeição da globalização em muitas franjas da população ocidental aconteceu, porque só as grandes empresas beneficiavam dos acordos comerciais, e o resultado disso foi o aparecimento de fundamentalistas fascistas de extrema-direita que levaram à emergência de pessoas, como Donald Trump, que diziam oferecer alternativas à globalização e aos acordos comerciais”.
“Ao implementar o acordo, temos de estar sempre cientes do impacto que vamos proporcionar, e temos a responsabilidade de inverter esta tendência de nacionalismo e demonstrar que os acordos levam a prosperidade para todos, contribuindo para a industrialização de cada país e da região”, acrescentou.
O acordo de livre comércio em África entrou em vigor no princípio de 2021, depois de um adiamento devido à pandemia, e criou o maior bloco regional de livre comércio do mundo, abarcando já 43 países africanos que se comprometeram a reduzir ou eliminar as barreiras alfandegárias e potenciar o comércio intra-africano.
“Já há 43 países que aceitaram as obrigações legais de reduzir barreiras ao investimento, ao comércio em África e assim garantir que o continente se torna globalmente competitivo, afastando-se do modelo económico colonial de simples exportação das matérias-primas”, disse Mene.
África é habitada por 1,3 mil milhões de pessoas, com um Produto Interno Bruto (PIB) de 3,4 mil milhões de dólares em 2019. Das dez economias, com uma taxa de crescimento mais rápida, seis eram africanas, salientou, acrescentando que “30% de todas as reservas mineiras estão em África, que é também onde estão 8% do volume total das reservas de petróleo, 7% de gás natural, com os minerais a valerem 70% das exportações e 28% do PIB no continente”.