A crescente utilização dos serviços financeiros digitais pelas mulheres moçambicanas, sobretudo através de telemóvel, está a reduzir a diferença de género na inclusão financeira.
A conclusão foi esta quarta-feira, 22 de Junho, apresentada pela directora-executiva do Financial Sector Deepening Moçambique (FSDMoç), Esselina Macome, que questionou se as instituições financeiras estarão preparadas para adaptar os seus produtos às necessidades das mulheres moçambicanas.
Macome, que é também professora na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, falava num painel sobre igualdade de género na Conferência Novafrica 2022 sobre Desenvolvimento Económico, que começou ontem na Nova School of Business & Economics, em Carcavelos, Portugal.
Em declarações à Lusa à margem da conferência, a responsável do FSDMoç, programa financiado pelos Governos britânico e sueco e que promove a inclusão financeira, explicou que a percentagem de moçambicanos que estão fora do sistema financeiro caiu de 60% em 2014 para 46% em 2019, o que ainda coloca o País numa das piores posições na região da África austral.
Acrescentou que 48% das mulheres moçambicanas estão fora do sector financeiro, enquanto nos homens essa percentagem é de apenas 43%, ou seja, a exclusão financeira em Moçambique afecta mais as mulheres do que os homens.
No entanto, essa diferença tem vindo a esbater-se e para isso tem contribuído o acesso a serviços financeiros digitais, nos quais as mulheres se têm destacado.
As mulheres, concluiu Macome, estão assim a contribuir para a redução da diferença de género na exclusão social.
“Então a pergunta é: o que é que nós fazemos para aproveitar esta mais-valia?”, questionou a especialista, sugerindo que as instituições financeiras deveriam criar produtos que permitissem às mulheres usar o telemóvel como meio de produzir poupança sem terem de ir ao banco, “porque elas têm a percepção de que um banco não é para qualquer um, embora as portas sejam abertas para todos”.
À Lusa, a diretora do FSDMoç disse ainda que a inclusão financeira tem vindo a melhorar em Moçambique, mas ainda há “um grande caminho a andar”.
“Vemos que há um nível de redução da exclusão financeira, principalmente em termos de acesso, mas ainda há um trabalho a fazer (..): As pessoas têm acesso aos serviços financeiros? Será que utilizam? Utilizam para quê? Até que ponto o que eles fazem se reflecte na sua vida”, questionou.
A responsável, que é também professora na Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, lembrou que o Governo moçambicano lançou, em 2016, uma estratégia nacional de inclusão financeira, cuja primeira fase termina este ano, mas admitiu que faltam dados concretos sobre o impacto que esta forma de inclusão tem na redução da pobreza.
“É uma pergunta que nós próprios estamos à procura de resposta. (…) Para nós, a inclusão financeira só faz sentido se impactar na qualidade de vida das pessoas”, ou seja, retirando-as da pobreza, afirmou Esselina Macome.
“Mas o que sentimos é que não temos instrumentos de medição, de dizermos que ‘fizemos isto’ e contribuiu na redução da pobreza neste nível”, disse a responsável, afirmando que o FSDMoç acaba de lançar um concurso para um estudo que avalie essa relação.
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