Até recentemente, fui autora de duras críticas perante a constante procura de capacidade estrangeira para preencher vagas de emprego. Isto, particularmente na área da conservação e num contexto nacional de desemprego considerável. Apontava como quase uma ‘eco colonização’, o facto de observar a enorme presença de actores internacionais que apoiam ao Governo na gestão das áreas de conservação.
Com algum receio que a minha opinião seja considerada de alguma forma xenófoba, confesso desde já que sim; sou uma daquelas pessoas que refila constantemente – ‘e só sul-africanos por todo o lado!’, mas não pela falta de coragem, zelo e profissionalismo dos nossos vizinhos na protecção de recursos naturais, hotelaria e turismo ou a agricultura por exemplo. Mas muito pelo contrário, condeno sim aos Moçambicanos pela falta de apropriação, vocação, paixão e patriotismo para defender com unhas e garras o que é nosso.
Reserva Especial do Niassa © Lola Lopez
Há não muito tempo, procurei profissionais para preencher algumas posições neste sector e sem demasiado suspense, entendi o tamanho do desafio. O fraco acesso à educação, a pouca experiência em quadros já formados, o frágil domínio ou interesse em áreas profissionais especializadas e por último o surpreendente grau de arrogância causado pelas condições atractivas, mas surreais, oferecidas pelas empresas multinacionais maioritariamente vinculadas a área das indústrias extractivas são apenas alguns dos factores que nos tornam menos competentes em relação aos vizinhos regionais.
No entanto, existe um desafio social do qual muito pouco se fala, pois não podemos ignorar que a instabilidade política no nosso país causou um importante movimento de pessoas que não tendo outra alternativa, saíram de suas casas nas zonas rurais, em direcção as grandes cidades em busca de segurança e sobretudo, uma vida melhor.
Ao longo dos anos, Macuas, Senas e Ndaus viajaram rumo ao sul onde se juntaram aos Tsongas e onde muitos acabariam por ficar para sempre. Infelizmente os conflictos foram constantes; a guerra da independência, a guerra civil, os conflictos armados pós acordo de paz e mais recentemente a presença de insurgentes em Cabo Delgado e norte do país.
Moçambique rural passou a significar pobreza e subdesenvolvimento; um abismo geográfico de inquietações onde quem não conseguir sair, ficará atrapado para sempre.
Tornar a encontrar o encanto destas zonas menos urbanizadas é possível, mas este retorno requere tempo e persistência. Na Europa, tanto as guerras como a industrialização do sector de produção, fizeram com que as oportunidades de trabalho nas zonas rurais reduzissem significativamente. Lá também as pessoas foram as grandes cidades e pouco a pouco as aldeias ficaram desabitadas.
Não foi até muito mais tarde, que na ausência de novas oportunidades de emprego, tanto nas grandes cidades como noutras cidades capitais da Europa, que jovens encontraram no meio rural uma nova oportunidade de crescimento e expansão que se enfocava na recuperação dos valores tradicionais enraizados no meio rural.
Moçambique precisa que a (re)descoberta do meio rural comece já, e que a mesma seja liderada por uma geração de jovens curiosos, empoderados e capazes. O investimento na preservação de recursos naturais, a valorização cultural e a geração de novas oportunidades de negócio irão contribuir para pôr fim ao êxodo rural e melhorar a qualidade de vida das pessoas. ‘Esquecer como escavar a terra e cuidar do solo é nos esquecer-mos de nós próprios’ – Mahatma Ghandi.
Discussion about this post