A bitcoin caiu este fim de semana abaixo da linha psicológica dos 20 mil dólares, pela primeira vez desde Dezembro de 2020. Voltou, ao longo do dia de ontem, acima desta fasquia, uma reviravolta que se espelhou nas altcoins. Ainda assim, os especialistas apontam para a continuidade da queda, apesar de duvidarem de que a bitcoin tombe para a “linha negra” dos oito mil dólares
Por norma, “no fim-de-semana a liquidez é menor”, um fenómeno que, associado “à venda de posições mais alavancadas”, levou a esta queda abaixo do limiar dos 20 mil dólares, explica Steven Santos, gestor do BiG – Banco de Investimento Global, ao jornal Negócios. Para o futuro, “ainda existe muito pessimismo, já que não está prevista uma inversão da inflação”. A aceleração dos preços levou a um movimento de aperto monetário, diminuindo o apetite pelo mercado de risco, uma tendência que abarcou as criptomoedas.
Apesar disso, o gestor do BiG acredita que o mercado das cripto não bateu no fundo: “ainda falta uma capitulação simbólica, ainda não atingimos o pânico total”, refere.
Já o analista da Xtb, Henrique Tomé, olha a mais longo prazo e mantém “um tom optimista” para os próximos meses. “Pode ser que no fim do terceiro trimestre ou no início do quarto trimestre, a bitcoin consiga melhorar, tendo em conta que estes são períodos habitualmente positivos para o mercado cripto”, antecipa o especialista.
Henrique Tomé admite que o próximo desafio para a bitcoin será não cair abaixo dos 19 mil dólares. Depois de ultrapassar em baixa a linha dos 20 mil dólares, a maior criptomoeda do mundo apagou as perdas do fim de semana, estando a subir quase 7% para mais de 20 500 dólares. Para os analistas, a recuperação de domingo foi assegurada pelo movimento “buy the dip”. A aposta em activos com avaliações baratas pode, no entanto, não ser suficiente para segurar a “criptoqueen”.
“Começámos a atingir níveis próximos do fundo, em que os investidores institucionais vêem uma oportunidade de compra”, defende Paul Veradittakit, sócio do fundo focado em cripto, Pantera Capital, citado pela Bloomberg. Elon Musk e a Binance foram alguns dos investidores de peso que assumiram a estratégia “buy the dip”.
Desde o início do mês, a bitcoin caiu 30%, uma perda ampliada para 70% desde que ultrapassou a barreira histórica dos 69 mil dólares em Novembro do ano passado. Henrique Tomé explica que o “buy the dip” pode não funcionar a longo prazo por duas razões: devido à política monetária “falcão” dos bancos centrais, que promete continuar a pressionar o mercado de risco, e também a possibilidade de alguns “players” de peso, como a Microstrategy – a maior proprietária empresarial de bitcoin –, se verem “obrigados a fechar posições devido à desvalorização da bitcoin”.
Apesar do “crash” das últimas semanas, os analistas concordam que “é pouco provável” que a bitcoin caia para a fasquia dos oito mil dólares, como foi previsto pelo director de investimentos da Guggenheim, Scott Minerd no final de maio. “Faltam alguns factores estruturais”, começa por explicar Steven Santos.
O gestor do BiG recorda que, a partir de um determinado patamar, a mineração de bitcoin deixa de ser rentável, por volta dos 14 mil dólares, pelo que “não é expectável” que a bitcoin sofra uma queda desta dimensão.
Também Henrique Tomé, analista da Xtb, acredita que é difícil que a bitcoin caia para este patamar, até porque, para o especialista, o cenário actual é diferente do “apocalipse cripto” de 2018, em que a “criptoqueen” chegou a desvalorizar 80%. “É pouco provável que volte a acontecer o que aconteceu em 2018, porque existe muito investimento institucional, como não havia há quatro anos”, justifica.
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