O Banco de Moçambique decidiu aumentar, no fim do mês de Maio, a taxa de juro referencial, conhecida como Prime Rate, para 20,6 %, para controlar a inflação que subiu para 7,9% no mesmo mês.
Economistas contactados pelo DE para se pronunciarem em torno do assunto afirmaram esta sexta-feira, 17 de Junho, em Maputo, que a medida anti-inflacionária tomada pelo Banco Central pode não surtir os efeitos desejados, uma vez que não se aplica à realidade económica.
“Esta medida monetária, restritiva, com vista a conter ou reduzir a inflação em Moçambique, não está a surtir o efeito preconizado, portanto, as medidas monetárias nem sempre são o mecanismo fiável para resolver os problemas inflacionários. É preciso que se repare, primeiro, nas causas que provocam esse aumento, ou seja, o aumento da taxa de juro só aplicada quando há maior circulação de dinheiro dentro da própria economia, isto quando os cidadãos e os empresários têm dinheiro em excesso e gastam de forma excessiva. Aí já se poderá desencadear medidas monetárias com vista a conter a inflação, aumentando as taxas de juro”, explicou o economista Elcídio Bachita, que considera que “as medidas tomadas pelo BM não se aplicam à nossa realidade económica, tendo em conta que, mesmo antes da eclosão do conflito Russo-Ucraniano, o custo de vida moçambicano já era elevado”.
Por seu turno, o economista Pedro Saulosse reconhece, igualmente, que as medidas tomadas pelo Banco Central podem não surtir efeitos esperados, se forem aplicadas de forma isolada.
“Quanto à eficácia desta medida para controlar ou baixar a inflação, quero dizer que isso pode não ter o impacto desejado, porque o que causa a inflação neste período actual pode não ser exactamente o recurso ao financiamento bancário para que a banca monetária esteja em excesso no mercado. Então, isso poderá não garantir, por si só, um resultado positivo. Talvez associando com outras medidas”, disse Saulosse, para quem a medida “afecta negativamente as empresas que recorrem ao desenvolvimento dos seus negócios através do crédito bancário”.
Diante desta situação, Elcídio Bachita afirma que a solução passa pela transformação da economia moçambicana, de importadora para uma economia exportadora de produtos.
“Moçambique é um país meramente importador, não produz quase nada em quantidades capazes de satisfazer a procura interna. Portanto, antes de se tomar medidas monetárias, é preciso reparar-se para os factores que provocam a própria inflação”, disse, sublinhando que “a nossa inflação não é de carácter monetário, é preciso que se repare para outros factores. Para conter esta inflação, pelo menos a curto prazo, é preciso conjugar as medidas monetárias com as medidas fiscais, porque só o Banco de Moçambique sozinho não é capaz de controlar a inflação”.
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