Desde pequeno que já sentia a arte gritar dentro de si. Permanecia tímido para o mundo dos homens e desinibido para o mundo da imaginação. A sua maneira calma de ser inquietava quem dele se aproximasse. Sentia-se incompreendido e procurava decifrar os seus enigmas internos.
Diogo Luís Daniel, ou simplesmente Magafusso, como foi baptizado no universo das artes, renasceu após sentir o florescer da arte dentro de si.
Na pacata povoação de Macupula, na Maxixe, província de Inhambane, o artista descobriu, por meio do papel e lápis, a fórmula certa para vencer a timidez. Encontrou dentro de si diferentes sujeitos que queriam ser expostos ao mundo e precisavam de voz. Talvez por isso sempre tenha sido conhecido como um menino tímido e, só depois de começar a fazer esses “sujeitos” falarem por meio dos pequenos retratos, passou a ser compreendido.
Começou por fazer retratos e, mais tarde, na década de 1980, trocou o lápis e papel pela tinta e pincel. Guardou durante muito tempo as suas obras e só em 1989 expôs, pela primeira vez, o seu trabalho, numa exposição colectiva de artes plásticas na Casa de Cultura em Inhambane. De lá a esta parte, várias exposições têm marcado a sua passagem pelo mundo artístico, entre individuais e colectivas.
A recente exposição inaugurada na Fundação Fernando Leite Couto é a prova viva disso. Intitulada “Três Dedos e Três cores”, Magafusso abrilhanta o público com uma expressiva exposição de pintura onde o vermelho, amarelo e azul materializam o que os dedos, indicador, polegar e médio, tentam dizer.
Os três dedos — o indicador, polegar e médio — pegam no pincel e as três cores primárias básicas — o amarelo, vermelho e azul — dão vida às obras. Mas há também um longo braço que se comunica com o cérebro, para perceber os sentimentos do artista
“O nome da exposição origina do facto de esta ser fruto do trabalho de três dedos e três cores, que materializam o pensamento do artista. Os três dedos — o indicador, polegar e médio — pegam no pincel, e as três cores primárias básicas — o amarelo, vermelho e azul — dão vida às obras. Mas há também um longo braço que se comunica com o cérebro, para perceber os sentimentos do artista e transforma o resultado dos três dedos e três cores numa obra de arte”, explicou Magafusso à E&M.
A exposição de 25 obras reúne trabalhos produzidos entre 2003 e 2022, sendo o acrílico sobre tela a técnica predominante. O azul, vermelho e amarelo prevalecem na exposição de Magafusso, que une o celestial ao terreno, num conjunto de obras com temas tradicionais e modernos.
“A minha inspiração está centrada em duas condições: temas terrestres e celestiais. Trabalho a arte sacra e a arte profana”, acresceu o artista.
O que dizer de “Dulomo”, a obra que explora as loucuras da alma, “Olhar Bem”, que incentiva um olhar mais penetrante sobre o mundo, ou “Jesus Cura o Cego”, transmitindo um olhar mais actual sobre os milagres de Cristo. Magafusso é, nesta exposição, um piloto que conduz os amantes da arte a um voo sobrenatural sobre o natural e o celestial.
O artista, de 58 anos de idade, quer continuar a conduzir-nos a voos maiores e, por isso, sonha em levar a arte de Maxixe para o mundo, por meio de uma galeria. “O meu grande sonho é fazer uma galeria de arte onde possa expor o meu trabalho e convidar pessoas a irem a Maxixe para ver e apreciar a arte. Estou a apostar nisso e já comecei a construí-la. Na verdade, estou na fase final da construção. Espero poder contribuir dessa forma para o desenvolvimento da arte”, concluiu.