Os preços dos cereais e das oleaginosas têm estado a disparar este ano, numa tendência reforçada pela invasão da Ucrânia pela Rússia a 24 de Fevereiro. A guerra, que ainda decorre, bem como a estimativa de colheitas mais fracas do que o previsto inicialmente, a par de uma contenção das exportações indianas, são factores que criam a tempestade perfeita para que um destes cereais, o trigo, tenha estado recentemente em máximos históricos.
Os preços do trigo negociado em Chicago – que é a referência mundial – já sobem mais de 40% desde o início do ano e perto de 17% desde que a guerra começou, e valem, agora, em torno de 10,8 dólares por alqueire. Em Abril, atingiram um máximo histórico de 12,75 dólares por alqueire. Também no mercado de referência para a Europa – o parisiense Matif – o indexante do trigo alcançou um recorde em Abril, ao transaccionar nos 406 dólares por tonelada.
A justificar as subidas estiveram, sobretudo, os receios de uma oferta inferior à procura – especialmente no que diz respeito às exportações que provêm do Mar Negro. A retoma das exportações da Ucrânia, que antes da invasão era o sexto maior exportador mundial de trigo (e o quarto maior de milho), é crucial para os mercados cerealíferos, especialmente depois de a Índia ter decidido, no mês passado, banir grande parte das suas vendas de trigo para ter o suficiente “em casa”, depois de uma colheita inferior ao esperado. O tempo adverso nas regiões produtoras dos Estados Unidos tem contribuído para os reveses da oferta.
Apesar de a Índia ter anunciado, na última terça-feira, 7 de Junho, que poderá permitir o envio de 500 mil toneladas, depois de o seu embargo às exportações ter feito disparar o preço do trigo, o relatório de Junho da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) prevê, para a próxima campanha cerealífera, a primeira queda em quatro anos, especialmente no que toca ao trigo e arroz.
O Ocidente não parece disposto a aliviar as sanções contra Moscovo, uma exigência imposta pela Rússia para abrir corredores comerciais nos portos ucranianos do Mar Negro e do Mar de Azov. O Presidente russo, Vladimir Putin, nega que esteja a impedir que os portos ucranianos exportem cereais e veio dizer na semana passada que a melhor solução seria fazer as remessas através da Bielorrússia, desde que as sanções também decretadas contra aquele país aliado sejam levantadas.
Enquanto isso, há mais de 20 milhões de toneladas de cereais da Ucrânia presos junto aos silos portuários, acumulados desde que o transporte marítimo foi suspenso a 24 de Fevereiro. Por isso, o mercado vai continuar sob pressão e não se antevê uma solução simples.