Cabo Verde ligou-se ao cabo submarino de fibra óptica ‘EllaLink’, que interliga a Europa à América Latina, multiplicando por dez a actual capacidade de tráfego de dados, prevendo exportar largura de banda à costa ocidental africana.
“Marca, de facto, uma nova era das telecomunicações e da Internet em Cabo Verde”, afirmou o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, no evento oficial de ligação ao ‘EllaLink’, que se realizou esta segunda-feira, 6 de Junho, e sublinhou a importância deste investimento para posicionar o arquipélago como um ‘hub’ tecnológico “relevante” em África e no Atlântico médio.
De acordo com Ulisses Correia e Silva, a economia digital já representa 6% do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano, mas a meta é “subir até, pelo menos, 25%”, dando como exemplo a possibilidade de Cabo Verde atrair empresas tecnológicas e nómadas digitais para trabalharem a partir do arquipélago, face ao aumento da capacidade de tráfego possibilitado pelo novo cabo submarino de fibra óptica, que será ainda rentabilizado pela conclusão, em curso, da ligação submarina Share Cable, entre a Praia e Dacar, no Senegal.
“Está praticamente finalizado e entrará brevemente em funcionamento, permitindo melhorar a largura da banda larga total para exportação por Cabo Verde para o Senegal e países da África Ocidental”, assumiu o chefe do Governo.
O cabo submarino EllaLink, com ligações em terra em Portugal continental (Sines), Madeira, Marrocos, Cabo Verde e Brasil (Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro), tem quatro pares de fibra óptica de última geração e, segundo a Cabo Verde Telecom (CVT), que assumiu o investimento da ligação daquele projecto privado ao arquipélago, terá uma capacidade de, pelo menos, dez vezes superior à única ligação submarina que serve o país.
Contudo, a capacidade prevista do Ellalink, de 12,6 terabits de dados por segundo, a entregar à CVT – com uma redução da latência actual em cerca de 40% e que, pela primeira vez, permitirá ao arquipélago ligações independentes e directas para a América Latina e para a Europa -, poderá ser ampliada mais tarde até 70 terabits por segundo.
João Domingos Correia, presidente do conselho de administração da CVT, sublinhou que o investimento na ligação ao novo cabo submarino é a “melhor via para a modernização do negócio” da empresa, controlada pelo Estado cabo-verdiano, e que vai “mitigar” as dificuldades das ligações internacionais de dados.
“Hoje, com a activação do sistema, fica o marco histórico, de grande relevância para o país e para o sector das telecomunicações”, afirmou, prevendo um “efeito catalisador” da nova ligação em todos os sectores de actividade em Cabo Verde, incluindo ao nível da segurança, pela redundância que passa a existir.
A ligação do EllaLink a Cabo Verde está orçada em 30 milhões de dólares, com um financiamento do Banco Europeu de Investimento (BEI) no montante de 25 milhões de dólares com aval do Governo de Cabo Verde, incluindo cinco milhões de dólares para a construção da estação de ligação, em curso, na Praia.
“Cabo Verde fica, a partir de hoje, um pouco mais perto. Mais perto não apenas de Portugal, do Luxemburgo ou de Bruxelas, mas mais perto do mundo. E o mundo que conhecemos hoje é um mundo digital”, afirmou, ao intervir no evento, o vice-presidente do BEI, Ricardo Mourinho Félix, sublinhando tratar-se de um projecto que é um “símbolo”, também, da relação da União Europeia com Cabo Verde.
O sistema EllaLink consiste num cabo submarino atlântico de fibra óptica de última geração, projectado para atender à procura de tráfego entre a Europa e a América Latina, com possibilidade de inclusão do tráfego da região da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a partir de Cabo Verde. O projecto é considerado, pela empresa de telecomunicações CVT, como de “grande importância para o desenvolvimento das comunicações em Cabo Verde”, porque representa um “leque muito valioso de oportunidades em matéria de conectividade, mobilidade e integração”.