Da produção à utilização, das reservas até ao comércio. A Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) prevê quebras em praticamente toda a linha nos cereais para 2022/2023. A excepção vai para o consumo, que antecipa que aumente, acompanhando o ritmo de crescimento da população.
Embora sejam preliminares, os dados compilados pela FAO, com base nas condições das culturas e nas intenções de semear, dão como provável uma descida da produção mundial de cereais em 2022/2023 que, a confirmar-se, será a primeira em quatro anos. Em números: deve recuar para 2784 milhões de toneladas, o que significa menos 16 milhões de toneladas face ao recorde de produção estimado em 2021.
Embora a FAO apresente apenas projecções no boletim mensal, e sem facultar explicações, à descida da produção mundial de cereais não será alheio o impacto da guerra, que estalou a 24 de Fevereiro, dado que implica dois grandes produtores de cereais: a Ucrânia e a Rússia. Com efeito, segundo a FAO, os principais declínios esperam-se no milho, seguido do trigo, num pódio que fecha com o arroz. Há, no entanto, excepções. A travar maiores quedas na produção mundial de cereais estará, por exemplo, a cevada ou sorgo. Se, no primeiro caso, irá representar uma recuperação parcial face aos baixos níveis do ano passado, já no segundo irá representar o nível de produção mais elevado registado desde 2016.
À luz das previsões da FAO, a utilização mundial de cereais também deve sofrer uma descida em 2022/2023, embora a organização preveja que se mantenha acima da produção mundial prevista – correspondente a 2788 milhões de toneladas.
Apesar de o declínio antecipado ser ligeiro (0,1% face ao estimado em 2021/2022), a verificar-se será a primeira contracção em 20 anos. Em contrapartida, assinala o organismo, o consumo de cereais deve aumentar, seguindo o ritmo de crescimento contínuo da população mundial.
Com base nas projecções iniciais da FAO relativamente à produção mundial em 2022 e à utilização em 2022/2023, o que as colheitas vão render não será suficiente para ir ao encontro dos requisitos de utilização esperados, o que irá conduzir a um recuo de 0,4% dos stocks de cereais para 847 milhões de toneladas. Das reservas dos principais cereais, a mais atingida será a do milho, embora sejam de esperar também descidas nos inventários de cevada e arroz, ao passo que os de trigo e de sorgo devem subir.
O comércio mundial de cereais também não escapa à tendência de descida quase transversal. Segundo as expectativas avançadas pela FAO, as trocas comerciais destes produtos devem diminuir 2,6% face aos valores estimados de 2021/2022 para 463 toneladas, reflectindo, assim, uma queda para mínimos dos últimos três anos.