O Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM), a Jason Moçambique e a Media 4 Development, que detém a revista Economia & Mercado, o Diário Económico e o portal de informação em língua inglesa 360 Mozambique, realizaram esta terça-feira, 24 de Maio, o primeiro MIT – Mozambique Industry Talks, uma iniciativa que visa promover o debate concreto em torno dos vários modelos de industrialização enquanto forma de fomentar as exportações e acrescentar valor à economia nacional.
No debate estiveram presentes João Gomes, partner da Jason Moçambique, que abriu a sessão falando sobre os diferentes factores de sucesso e insucesso da industrialização em África, Borges Chambal, professor da UEM, que trouxe o papel do sistema científico e tecnológico no desenvolvimento da indústria, Cristina Paulo, Coordenadora do Programa +Emprego, que abordou o capital humano e o desenvolvimento industrial e a sua relação com os projectos de gás natural, Chiaki Kobayashi, representante residente adjunto em Moçambique da JICA, a Agência de Cooperação Internacional do Japão, e Rogério Samo Gudo, presidente da AIMO-Associação Industrial de Moçambique.
Os casos de sucesso da Etiópia e o processo “Kaizen” japonês
João Gomes começou por lembrar o modelo de sucesso da Etiópia, de “como aliou a criação de negócios inovadores, como a produção de flores, e a sua importância [enquanto país] na criação de uma cadeia de valor enormemente rentável e geradora de emprego, alicerçada em importantes players que também cresceram com ela, como é o caso da companhia aérea Ethiopian Airlines”.
O partner da Jason Moçambique focou-se, depois, na geração de competências, como forma de “evitar as duas grandes falhas do mercado ao nível da produção, em África e, também, em Moçambique, como a falta de preparação para a exportação e para a disciplina dos mercados internacionais, e depois a falta de trabalho em associação ou parceria”.
Chiaki Kobayashi, representante da Agência Japonesa de Cooperação, começou por dar a conhecer um dos conceitos orientadores de toda a cultura nipónica, traduzida no sentido e aplicação da palavra Kaizen – ou melhoria contínua em português –, algo que, segundo ele, “é fundamental em qualquer processo de crescimento”. Depois lembrou a história de cooperação de mais de 30 anos da JICA com Moçambique e abordou o orçamento anual de “120 milhões de dólares anuais, em que metade são em forma de empréstimos e a outra metade em forma de donativos de fomento ao desenvolvimento”. E deu exemplos da parceria técnica e ao nível do desenvolvimento socioeconómico: “Temos trabalhado sempre com o Governo moçambicano e acompanhamos o foco moçambicano de investir em quatro áreas fundamentais: agricultura, industrialização, infra-estruturas e capital humano. A indústria está presente em todas elas, no fundo”, observou.
“A industrialização, a nível global, é essencial. Em África é decisiva para a erradicação da pobreza, a sustentabilidade climática e o desenvolvimento de uma forma geral”, acrescentou o parceiro Chiaki Kobayashi.
A história da indústria, a importância do conteúdo local e o papel central do associativismo
Já o professor Borges Chambal, da Universidade Eduardo Mondlane (UEM, preferiu focar-se na questão histórica da indústria no mundo e também no País. “A base de desenvolvimento económico dos países mais avançados é a indústria”, começou por elaborar, relembrando, mais à frente, e apontando a Moçambique, “o desafio logístico, a importância da formação e de criar quadros capazes de lidar com a inovação necessária”.
É preciso acelerar o processo de industrialização e acrescentar valor ao que se produz cá dentro. Daí a importância do capital humano devidamente qualificado, baseado num trinómio ‘produtividade-qualidade-acesso’.
Cristina Paulo, Coordenadora do Projecto +Emprego
Cristina Paulo, coordenadora do Projecto +Emprego, uma iniciativa do Camões IP financiada pela União Europeia, falou de como “a industrialização é uma fonte de crescimento e geração de emprego, uma realidade incontestável a nível mundial”, e notou como “existe uma relação causal positiva entre a industrialização e o crescimento de vários sectores da actividade económica bem como dos principais indicadores de desenvolvimento humano. O crescimento das exportações gera crescimento económico, redução dos preços dos produtos e aumenta a competitividade, gerando um ciclo virtuoso. É preciso acelerar o processo de industrialização e acrescentar valor ao que se produz cá dentro. Daí a importância do capital humano devidamente qualificado, baseado num trinómio ‘produtividade-qualidade-acesso’. Em Moçambique, o desafio de industrializar passa, essencialmente, por começar a ultrapassar as assimetrias e obstáculos estruturais do País, utilizando todos os mecanismos, com a ajuda externa sim, mas, essencialmente, com investimento interno na capacitação e na formação.”
Rogério Samo Gudo, presidente da AIMO – Associação Industrial de Moçabique, começou por recordar a sua história na área industrial e de como o associativismo pode ser fundamental, relembrando como o nascimento da AIMO esteve na base do surgimento da CTA, e como Moçambique já foi, em tempos, um país industrializado. “O grande desafio da AIMO foi o de recordar como foi que já tivemos essa grande indústria e como a poderemos voltar a ter, criando essa base industrial em Moçambique. A industrialização começa em casa e o primeiro actor do desenvolvimento da industrialização deve ser precisamente onde estamos hoje, a academia”.
Nas notas finais, João Gomes fechava a sessão com a garantia de continuidade da iniciativa Moz Industry Talks em outros formatos e futuras ocasiões, mas sempre com a indústria como pano de fundo. “O objectivo desta iniciativa conjunta da Jason, ISCTEM e Media 4 Development é o de construir conhecimento, com base nos contributos dos nossos convidados, e partindo da academia.”
Pedro Cativelos, director executivo da Media 4 Development, assinala como este Moz Industry Talks (MIT) se propõe ser “uma plataforma que vai debater, num formato diferenciado, mais informal e, com isso, mais dinâmico e informativo, e que agrega estudantes, empresários da área industrial, estudiosos na matéria, associações dos vários ramos industriais, da agricultura à logística, passando pelo oil & gas ou a metalurgia, juntando numa mesma sala os actores principais de hoje, num diálogo aberto com os jovens que podem fazer a mudança do amanhã. A ideia desta iniciativa é essa mesmo, gerar conteúdo, conhecimento e massa crítica numa nova geração de jovens orientados para um novo pensamento industrial.”
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