Enquanto África procura maximizar a exploração dos seus estimados 125,3 mil milhões de barris de crude e 620 triliões de pés cúbicos de reservas de gás, as políticas globais relacionadas com a transição energética tornaram difícil para o continente atrair os investimentos necessários para acelerar a produção de hidrocarbonetos, escreve a Further Africa.
Com as empresas globais de petróleo e gás a dar prioridade à descarbonização, vários mecanismos e tecnologias de digitalização como a captura e armazenamento de carbono, inteligência artificial e aprendizagem de máquinas proporcionam uma oportunidade para o sector do petróleo e gás do continente atrair investimentos e maximizar a produção, ao mesmo tempo que reduzem as emissões.
Um painel de discussão intitulado “O futuro cabaz energético de África: O papel da digitalização e da tecnologia”, apresentado durante o 8º Congresso e Exposição Africana do Petróleo (Cabo VIII), realizado em Luanda entre 16 a 19 de Maio de 2022, explorou a adopção da tecnologia no mercado africano dos hidrocarbonetos e o papel que as ferramentas digitais desempenham para ajudar a enfrentar os desafios da indústria.
A discussão foi moderada por Joel Costa, CEO da Hora da Bolsa, e contou com Taher M.O Najah, director do Centro de Investigação e Desenvolvimento Rilwanu Lukman da Organização dos Produtores Africanos de Petróleo, Edson Azevedo, director-geral da Xamariz Marketing, Ibilola Amao, consultor principal da Lonadek, Tim Dixon, director do programa de I&D de gases com efeito estufa da Agência Internacional de Energia, e Jarad Daniels, CEO do Instituto Global CCS, como oradores.
Comentando a transformação digital no sector dos hidrocarbonetos em África, Edson Azevedo salientou que o continente está ainda muito atrasado em relação a outras regiões, um desenvolvimento que está a restringir o crescimento do mercado.
“A indústria do petróleo e do gás tem acesso a várias soluções de conectividade, mas não as utiliza plenamente. Apenas 5% do equipamento petrolífero está ligado e uma fracção muito pequena dos dados adquiridos é utilizada para melhorar as operações. As tecnologias avançadas podem permitir a África optimizar as operações de perfuração e podem somar até 250 mil milhões de dólares em valor para a indústria”.
Os elevados custos associados à implantação de tecnologia e a excessiva dependência das empresas africanas em relação às importações de tecnologia foram os responsáveis pela baixa penetração de soluções digitais em África.
Melhoria da Implantação Tecnológica em África
De acordo com Taher M.O Najah, os africanos precisam de fazer mais em termos de desenvolvimento de tecnologias. “Neste momento, são as companhias petrolíferas internacionais que vêm com as suas tecnologias”, declarou o director do Centro de Investigação, enfatizando que os governos precisam de criar um ambiente que permita o lançamento de tecnologias. Por exemplo, a regulamentação precisa de ser introduzida para facilitar o comércio de mão-de-obra, capital e tecnologia. “A colaboração precisa de ser priorizada com os fornecedores de tecnologia e não podemos fazer muito sem o envolvimento do sector privado em termos de colocar grandes projectos em linha. Os países africanos também precisam de se reunir sobre modelos de negócios e desenvolvimento de capacidades”.
Por sua vez, o consultor principal da Lonadek, Ibilola Amao, salientou que “precisamos de reunir o capital em África para processar os nossos recursos e desenvolver as nossas próprias soluções”. Precisamos de ser estratégicos quanto à forma como podemos utilizar a tecnologia para enfrentar os desafios do petróleo, do gás e da energia”.
Edson Azevedo acrescentou que os consumidores precisam de ser sensibilizados para os desenvolvimentos que ocorrem em toda a cadeia de valor do petróleo e do gás, sendo que as ferramentas digitais desempenham um papel vital na concepção de estratégias e no envio de mensagens relativas à utilização sustentável da energia.
Apesar do lento progresso da digitalização em toda a África, estão em curso esforços significativos para acelerar a adopção de soluções de captura e utilização de carbono, segundo Daniels e Dixon, com a África do Sul e a Argélia a implementarem projectos-piloto nos últimos sete anos e a Nigéria a iniciar estudos de viabilidade com a ajuda do Banco Mundial.
Benefícios da Digitalização nas Operações Petrolíferas e de Gás
Com as grandes petrolíferas, incluindo TotalEnergies, ExxonMobil e Shell, a saírem de algumas das bacias ricas de África, como parte dos esforços para reduzir as despesas operacionais e diversificar as empresas, a necessidade de África expandir a utilização de ferramentas digitais para atrair investimentos e reduzir as despesas operacionais foi também salientada pelo painel.
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