O cenário de insegurança vivido na Europa devido à guerra na Ucrânia está a provocar um impacto directo negativo nas reservas de trigo dos países que importam esta commodity da Rússia e da Ucrânia e a fomentar a incerteza em Moçambique, provocada essencialmente pelas contradições nos números do volume de stock existente no país, que têm sido avançados quer pelo Governo como pelas indústrias importadoras de trigo.
Recentemente, o PCA da “STEMA – Silos e Terminal Graneleiro da Matola”, Arlindo Chilundo, afirmava que as reservas de trigo do País seriam suficientes até ao próximo ano, salientando que a empresa havia recebido um navio carregado de cereais, entre os quais, o trigo para fazer face à procura.
Por seu turno, o ministro da Indústria e Comércio, Silvino Moreno, trouxe uma abordagem ligeiramente diferente sobre a quantidade de trigo disponível, quando referia que “Moçambique poderá ressentir-se da falta daquele cereal” e que as reservas que existem para assegurar o fornecimento durariam até ao final do próximo mês de Junho.
Entretanto, e face a estes pronunciamentos antagónicos, a Associação Moçambicana de Panificadores (AMOPAO), contactada pelo Diário Económico, mostra-se “preocupada pelo facto de não se conhecer, em pleno, a total veracidade dos factos, visto que os próprios importadores não são unânimes nas suas afirmações.” A própria Associação, de resto, diz desconhecer a realidade dos volumes existentes.
De acordo com Victor Miguel, presidente da AMOPAO, “devem ser tomadas medidas para reverter o cenário actual. Caso contrário, dias piores poderão estar para vir no que respeita ao aumento do preço do pão no País.”
“Qualquer redução de matéria-prima comporta impactos nos níveis de oferta. É um facto que o preço do pão vai ter que ser ajustado caso não se encontre uma solução alternativa porque, se não subirmos o preço do pão, corremos o risco de encerrar”, secundou.
Recorde-se que, ainda esta semana, a cotação do trigo de moagem atingiu os 438,25 euros por tonelada no fecho da sessão desta segunda-feira no mercado de commodities de Paris, um recorde para esta matéria-prima agrícola. O preço máximo ontem atingido refere-se a contratos de entrega prevista para Setembro e era, ao fecho, o valor mais elevado de sempre, acumulando subidas desde que a Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de Fevereiro último e, ainda mais valorizado, depois de a Índia — o segundo maior produtor de cereais do mundo, colhendo anualmente cerca de 107 milhões de toneladas, 13,5% da produção mundial — ter fechado a porta ás exportações de trigo para o exterior devido ao súbito aumento dos preços do cereal no mercado mundial, uma medida que o governo indiano atribui à “contenção dos riscos para a segurança alimentar do país.”
Actualmente, o saco do trigo, pelo menos na região Sul de Moçambique, varia de cerca de 2250 meticais a 2300 meticais, isto sem incluir o transporte que também tem aumentado, devido ao incremento no preço dos combustíveis, o qual, segundo os panificadores, “sai muito caro e acarreta sérios impactos nos custos de produção.”