O pânico instalou-se nas criptomoedas. Aos receios dos investidores globais sobre a escalada de inflação e impacto das subidas dos juros no valor dos ativos juntou-se agora uma crise das stablecoins que põe em causa a sua promessa de estabilidade.
O“crash” no mercado cripto está a fazer desaparecer fortunas em poucas horas. A inflação nos Estados Unidos, associada à polémica em torno da stablecoin Terra USD, afundou a capitalização das criptomoedas e atirou a bitcoin para mínimos de ano e meio.
“Existe um sentimento de medo em todo o mercado”, diz à Bloomberg Marcus Sotiriou, analista da GlobalBock, sobre o ambiente que se vive no mercado. Em 24 horas, a capitalização total chegou a afundar 15% para 1,18 biliões de dólares, ou seja, caiu mais de 14 mil milhões de dólares. Desde então, aliviou um pouco o ritmo de derrapagem cedendo, ainda assim, quase 10%.
A bitcoin chegou a afundar abaixo dos 27 mil dólares e a ethereum para menos de 2 mil dólares. Em resultado disso, o fundador da Coinbase, Brian Armstrong, viu a fortuna pessoal afundar: dos 13,7 mil milhões de dólares que tinha no fim do ano passado já só restam 2,2 mil milhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index. O “sell-off” nas moedas digitais também castigou as acções da maior “exchange” cripto dos EUA, que já desvalorizaram 84% desde que começaram a negociar em Wall Street, em abril de 2021.
Já o antigo gestor de hedgefund e CEO do banco cripto Galaxy Digital, Michael Novogratz, perdeu 2,5 mil milhões de dólares face aos 8,5 mil milhões que detinha em novembro. A perda é, em parte, justificada pelas ligações de Novogratz à Terra USD, a stablecoin algorítmica que está em risco de colapsar no mesmo ecossistema que a “irmã” Luna.
A Terra USD recorre a um algoritmo matemático para garantir a paridade com o dólar, tendo perdido esta estabilidade e desvalorizado nos últimos dias, arrastando o restante mercado das stablecoins. Depois da Terra USD e da Luna, também a Tether – a maior stablecoin do mundo – perdeu grande parte do valor.
Para Henrique Tomé, analista da Xtb, estas quedas representam “a desconfiança do mercado” sobre a correlação destes ativos supostamente estáveis em relação ao dólar. O fim da paridade pode “indicar que se trata de um esquema Ponzi até prova em contrário”, admite Henrique Tomé. Edul Patel, CEO da plataforma de investimento cripto Mudrex, concorda que “a queda a pique da stablecoin UST afetou em larga medida o mercado cripto”.
As dúvidas sobre o futuro das stablecoins vem agravar uma tendência negativa que já se vinha a sentir neste mercado, que não tem passado imune aos receios de recessão que têm assustado os investidores. Com a escalada da inflação e subidas de juros pela Reserva Federal dos EUA, o valor dos ativos está a sofrer movimentos de reajustamento. “Em última análise, cada investidor tem de dimensionar as suas posições com base no nível de risco e horizonte temporal”, acrescenta à Bloomberg Alex Tapscott, diretor executivo de ativos digitais do grupo Ninepoint Partners.