O silêncio era quebrado pelas palavras que se faziam poemas. A cada verso, uma representação do feminino que, em estrofes, exaltava a mulher nas suas metamorfoses diárias.
No mês em que se celebra o Dia da Mulher Moçambicana, um encontro poético, organizado pela Fundação Fernando Leite Couto, colocou a mulher no centro das atenções, por meio de 34 poemas de escritores dos mais diversos cantos do mundo, incluindo Moçambique, que um dia ousaram escrever sobre a mulher.
Denominado “Sarau Poesia Sobre as Mulheres”, o recital de poesia reuniu amantes da arte de escrever versos numa verdadeira celebração da poesia dedicada às mulheres.
Num cenário dominado por livros, o escuro da sala era iluminado pelas mulheres descritas em poemas nas vozes da declamadora Loide Nhaduco e do poeta e ensaísta Léo Cote.
“A ideia era termos uma visão das mulheres em todos os ângulos que pudéssemos trazer. Queríamos ter uma visão da mulher mãe, da mulher esposa, da mulher independente que luta pelos seus direitos, dos homens que amam as mulheres e escrevem sobre elas e juntar tudo isso num recital para mostrar as diferentes facetas da mulher”, esclareceu Loide Nhaduco.
Poemas de Fernando Pessoa, Machado de Assis, Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade, e das moçambicanas Noémia de Sousa, Sónia Sultuane e Hirondina Joshua fizeram parte da amostra do que já se “poetizou” no mundo sobre as mulheres.
“Pensámos em juntar escritores e escritoras dos vários continentes. Não nos queríamos restringir somente às poetisas e poetas moçambicanos…”
“Pensámos em juntar escritores e escritoras dos vários continentes. Não nos queríamos restringir somente aos poetas ou poetisas moçambicanos. Queríamos dar uma visão mais global sobre a mulher”, acresceu Loide Nhaduco.
“Moça das Docas” e “Essa Sou Eu”, de Noémia de Sousa, fizeram ressurgir as alegrias e dores das mulheres moçambicanas, lembrando as suas lutas e batalhas diárias num mês em que a mulher é um poema constante a ser declamado em todos os cantos.
A selecção dos poemas para a exaltação colectiva da mulher não foi tarefa simples. O desafio de descrever em palavras a complexidade de um ser munido de singularidades foi, desde sempre, um desafio para os poetas.
“O processo selectivo foi interessante e, ao mesmo tempo, desafiador, pois queríamos trazer visões mais plurais e abrangentes sobre a mulher. Neste processo, descobrimos que, apesar de haver muitas poetisas, pouco se escreve em forma de poesia sobre a mulher”, constatou a poetisa.
Ainda assim, Loide Nhaduco considerou marcante a experiência de poder ser uma das várias mulheres e estar em diferentes lugares, não deixando de ser ela mesma. “Como mulher, foi interessante encarnar-me noutras mulheres descritas nos diversos poemas que declamei. Nesse processo acabei por me redescobrir e foi um prazer dar voz a essas experiências de vida apresentadas em poesia”, concluiu.
Texto Yana De Almeida
Fotografia D.R.