O presidente da Associação Moçambicana de Economistas (AMECON) disse esta terça-feira, 26 de Abril, à Lusa que a atual “escalada de preços” coloca o Governo “num dilema”, porque não há margem para medidas que atenuem o impacto da inflação nas famílias pobres.
“O próprio Governo, neste momento, está num dilema muito grande, [porque não tem por] onde mexer para poder reduzir o impacto desta escalada de preços”, declarou Pedro Cossa.
Cossa assinalou que a opção por alterações na tributação está muito limitada, porque o executivo já tinha mexido nos impostos para aliviar o efeito de covid-19 no custo de vida.
“A expectativa de crescimento da economia já começava a ganhar terreno [com o alívio das restrições contra covid-19] e surge este conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que não tem apenas um impacto nos dois países, mas tem um impacto global”, declarou o presidente da AMECON.
Moçambique, prosseguiu, também está a ressentir-se do encarecimento de alimentos, fertilizantes e combustíveis no mercado internacional, uma vez que a Rússia é um dos maiores produtores mundiais destes produtos.
Por outro lado, a possibilidade de reintrodução de subsídios a alimentos básicos pelo executivo moçambicano seria “problemática”, porque este tipo de incentivos é visto como factor de “ineficiência para a economia”, acrescentou Pedro Cossa.
Cossa observou que o custo de vida é agravado pelo impacto das calamidades naturais no centro e norte do país e pela subida dos preços de produtos alimentares na África do Sul, vizinho e maior parceiro comercial de Moçambique.
“Vamos viver um cenário em que até, provavelmente, o reajuste do salário mínimo não seja suficiente para acompanhar o aumento dos preços, porque sabemos que o preço do cabaz de alimentos básicos é muito mais elevado do que o reajuste do salário mínimo”, notou Pedro Cossa.
Cossa avançou que a vulnerabilidade de Moçambique a choques externos deve levar o país a acelerar a diversificação da economia e a aposta nas pequenas e médias empresas.
Os grandes projectos, principalmente do sector extractivo, afunilam a estrutura da economia, empregam mão de obra intensiva, não geram muitos postos de trabalho e têm poucas ligações com a economia local, afirmou.
“Podemos esperar momentos não muito bons, infelizmente, mas também pode ser um momento de chamada de atenção para nós, moçambicanos, começarmos a olhar para a nossa economia não apenas como megaprojectos”, enfatizou.
Pedro Cossa defendeu que a conjugação de factores negativos refreia o entusiasmo em relação à retoma da economia moçambicana, salientando que as projecções de crescimento devem ser vistas, agora, com cautela.
“Os pressupostos alteraram-se, a partir de Abril já ninguém fala de níveis de crescimento expressivos, porque os países estão a atravessar situações complicadas”, sublinhou o presidente da Amecon.
No início de Abril, o Banco de Moçambique antecipou uma “aceleração da inflação anual nos próximos meses”, para 6,61%, depois de 6,19% em Fevereiro, devido ao aumento dos preços dos combustíveis e dos alimentos em todo o mundo, decorrente da “escalada do conflito geopolítico na Europa”, numa alusão à guerra na Ucrânia, “e à ocorrência de desastres naturais na região centro e norte” de Moçambique, que provocaram prejuízos no primeiro trimestre.