A definição de “planeta” da União Astronómica Internacional (IAU) é muito rigorosa: tem de orbitar o Sol, estar desobstruído, ter massa suficiente para ser esférico e vizinhança em torno da sua órbita.
Sob estas restrições, apenas oito corpos no sistema solar podem ser considerados planetas: Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno.
A definição exclui Plutão. Contudo, um novo documento reforçou as propostas de inclusão deste corpo celeste com uma análise aprofundada dos critérios da IAU, uma vez que não se baseiam na ciência. “São baseados em folclore, incluindo astrologia”, sustentam os investigadores, citados pelo Science Alert.
O principal parâmetro que levou a IAU a eliminar Plutão da lista de planetas é o facto de este não ser capaz de conduzir a sua própria órbita – depende de outros corpos celestes para influenciar o seu trajecto, como Neptuno e vários objectos do Cinturão de Kuiper.
Planetas são geologicamente activos
Cientistas da Universidade da Flórida, liderados por Phillip Metzger, entendem que o organismo deveria substituir esta condição por outra mais importante: o facto de o corpo celeste em causa ser, ou já ter sido, geologicamente activo.
Plutão preenche esse requisito, assim como muitos corpos do sistema solar – a nossa Lua, e muitas outras, planetas anões e até asteróides. No entanto, os cientistas sustentam que o facto de estes objectos serem suficientemente semelhantes para poderem ser agrupados é uma razão convincente para que o sejam.
Metzger, principal autor do artigo científico publicado na Icarus, também baseia o seu argumento no facto de as novas tecnologias estarem a descobrir cada vez mais planetas dentro e fora da nossa galáxia, pelo que, em breve, será necessário um sistema de classificação mais robusto.
“Há uma explosão no número de exoplanetas descobertos na última década, com tendência a aumentar. Temos um motivo para criar uma taxonomia melhor, resolver este problema antes de chegarmos mais longe com esses exoplanetas”, justificou.
Durante os últimos cinco anos, a equipa realizou uma revisão aprofundada dos últimos 400 anos de literatura científica sobre planetas e descobriu que, ao longo do tempo, a definição estabelecida por Galileu, nos anos 1630, foi sendo substituída.
Na altura, Galileu argumentou que os planetas são objectos feitos de elementos que mudam ao longo do tempo – ou, como os investigadores o interpretam, são geologicamente activos.
Entre 1910 e 1950, os investigadores descobriram que o interesse pela ciência planetária estava a diminuir, havendo cada vez menos artigos científicos publicados. Os investigadores consideram que este vácuo científico foi preenchido por folclore.
Aliás, nos dois séculos anteriores, os almanaques – livros anuais que faziam previsões meteorológicas e outras baseadas nas posições de um pequeno número de planetas – tinham-se tornado populares. Isto introduziu a percepção de que apenas os maiores corpos em órbita do Sol eram planetas.
“Pode parecer uma pequena mudança, mas minou a ideia central sobre planetas que tinha sido transmitida por Galileu”, sublinha Metzger. “Portanto, o que estamos a tentar fazer, de certo modo, é tirar Galileu da prisão novamente, para que a sua visão profunda seja cristalina.”