A economia mundial caiu numa recessão histórica em 2020, na sequência das restrições impostas por parte da maioria dos países, de modo a controlar a propagação da pandemia do COVID-19. Segundo o FMI, o PIB mundial retraiu -3,5%, enquanto a economia moçambicana
contraiu em cerca de -1,3%.
No primeiro semestre de 2021, com o avançar dos programas de vacinação e o levantamento gradual das restrições nas principais economias a nível mundial, retomou a procura global por bens e serviços, originando disrupções nas cadeias de abastecimento, subida de preços das principais
commodities e o aumento dos níveis de inflação um pouco por todo o Mundo.
O PIB de Moçambique nos primeiros seis meses do ano apresentou um crescimento homólogo de +1,05%, tendo o sector agrícola, que cresceu +3,1%, sido o maior contribuidor para este crescimento, compensando a contracção de outros sectores da economia.
Após uma apreciação significativa do metical no início do ano, a moeda nacional retraiu ligeiramente nos meses seguintes, permanecendo estável desde o início de Julho. Esta estabilidade tem sido suportada por uma política monetária relativamente restritiva por parte do Banco de Moçambique, ao passo que as reservas de moeda estrangeira se têm mantido em níveis confortáveis. Apesar dos vários riscos, estima-se que esta estabilidade cambial permaneça a médio termo e, como resultado, as pressões inflacionárias tenderão a reduzir, mantendo este indicador ancorado nos níveis actuais.
Em 2020, o défice orçamental de Moçambique foi menor do que o previsto, tendo ascendido a 5,2% do PIB (contra a previsão anterior de 7% da Standard & Poor’s), em resultado de uma maior cautela por parte do Estado na realização de despesas, bem como os apoios financeiros recebidos no âmbito da pandemia.
Segundo o Governador do Banco de Moçambique, em entrevista ao The Banker, em Maio, considerando o espaço fiscal limitado, os níveis actuais de dívida colocam enormes desafios em lidar com cenários adversos e inesperados como a pandemia. Felizmente, o País tem recebido o apoio de entidades como o FMI, Banco Mundial e outros parceiros, e beneficiou da iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida por parte de alguns países do G20, o que tem aliviado temporariamente a pressão fiscal.
Este panorama económico de fragilidade, aliado à situação de instabilidade em Cabo Delgado e à incerteza quanto aos timings de retoma dos projectos de gás, têm motivado projecções distintas por parte dos vários analistas para a previsão de crescimento da economia Moçambicana em 2022, variando substancialmente entre 2,8% a 5,5%.
As várias análises identificam os seguintes principais factores como aqueles que poderão ter maior impacto nas previsões de crescimento:
• A evolução da pandemia em Moçambique, que continuará a condicionar o nível das restrições impostas. Os baixos números de vacinação mantêm o País exposto a novas vagas e variantes do Covid-19.
• A gestão da situação de insurgência em Cabo Delgado com impacto nas decisões de investimento e nos timings de retoma dos projectos de LNG.
• A potencial existência de desastres naturais semelhantes àqueles que assolaram o País nos anos recentes.
• O desenvolvimento do projecto FLNG da ENI dentro dos prazos esperados, que deverá permitir o início da exploração de gás em 2022. A Fitch Solutions, prevê um crescimento de 27,1% na produção de gás já no próximo ano em resultado da conclusão do projecto.
• A manutenção dos níveis de produção e preços das commodities de exportação de Moçambique, especificamente o carvão e o alumínio. No primeiro semestre de 2021, as exportações beneficiaram de um aumento de produção por parte da Vale, bem como de uma subida do preço destas mercadorias.
A existência de vários riscos de downside e o nível de concentração da economia moçambicana num conjunto restrito de sectores expõem o País a um cenário de incerteza e volatilidade, dificultando a elaboração de estimativas precisas de crescimento do PIB.
Contudo, e tendo por base a frágil situação da sustentabilidade da dívida pública, torna-se cada vez mais crucial a materialização das projecções de crescimento, e cada vez menor o espaço orçamental para acomodar choques negativos.