A África do Sul está bem colocada para tirar partido de um mercado mundial de hidrogénio verde que poderá valer 2,5 biliões de dólares até 2050.
A África do Sul tem planos para ligar as suas enormes reservas de platina ao mercado do hidrogénio verde, considerado como uma oportunidade de bliiões de dólares no mundo da energia verde já que a platina é um input fundamental na tecnologia de células de combustível de hidrogénio, capaz de suportar temperaturas mais elevadas do que outros metais e um catalisador para gerar uma corrente eléctrica.
A esse respeito, uma nova parceria público-privada está a investigar formas de transformar a cintura de platina do país num “vale de hidrogénio”. Em Outubro lançou-se um estudo de viabilidade que identifica três potenciais pólos catalisadores de hidrogénio verde: um em Joanesburgo que se estende até às proximidades de Rustemburgo e Pretória; um outro em Durban e Richards Bay, e um terceiro pólo que incluirá a cintura de platina através das províncias do Limpopo e do Noroeste.
A produção de hidrogénio verde precisa de ser alimentada por energia solar e a África do Sul tem algum do melhor potencial de energia solar e eólica do mundo, posicionando-a para construir uma nova indústria para servir a procura crescente.
O hidrogénio verde está cada vez mais a ser integrado como fonte de energia para navios, aviões, indústria e automóveis. Existem muitas outras utilizações para os seus subprodutos, que incluem o amoníaco e o metanol.
Mercado preparado para se expandir
Actualmente, menos de 1% do hidrogénio produzido globalmente é considerado verde. O resto é feito através da remoção do hidrogénio dos combustíveis fósseis, tais como metano, gás natural ou carvão. A África do Sul já tem capacidade em hidrogénio castanho e azul, que utiliza combustíveis fósseis mas o activismo em relação às alterações climáticas direccionou o enfoque para o hidrogénio verde numa altura em que o Conselho Mundial de Investimento da Platina calcula que esta será uma indústria de 2,5 biliões de dólares até 2050, gerando 30 milhões de empregos.
O activismo climático está a impulsionar a iniciativa Catapulta Verde de Hidrogénio, uma coligação global para acelerar a escala e a produção de hidrogénio verde 50 vezes durante os próximos seis anos.
Já o Japão, por exemplo, anunciou recentemente que planeia importar até 800.000 toneladas por ano do produto a partir de 2030, o que o constitui como um mercado para as exportações sul-africanas, diz Thomas Roos, investigador do Centro de Investigação Científica e Industrial da África do Sul (CSIR) à African Business. “E apenas uma quota de 25% da procura prevista do Japão seria um mercado de 600 milhões de dólares”, diz ele.
Na África do Sul, o sector mineiro será fundamental, e um dos pioneiros a este respeito. E a Anglo Platinum está a construir uma central solar fotovoltaica de 75 MW na sua mina de platina Mogalakwena, com vista a expandir esta para 320 MW de produção de energia solar na qual o excesso de electricidade será utilizado para produzir hidrogénio verde.
Capturar os benefícios
Mas os benefícios desta nova fonte de energia não se esgotam apenas o potencial de receitas de exportação e de criação de emprego. Há também o facto de, como nova indústria, não ameaçar os interesses políticos adquiridos do carvão e dos fósseis na África do Sul, como o fez a energia renovável.
Isto pode dar a este novo sector uma oportunidade de luta para evitar uma regulamentação onerosa e restritiva, uma vez que procura tornar-se uma força competitiva a nível interno e externo.
Mas a África do Sul enfrenta uma concorrência feroz nesta corrida a uma nova e promissora fonte energética. A Argentina, por exemplo, está bem avançada neste sector, juntando-se ao Chile e à Arábia Saudita. Marrocos também está em jogo e pode corroer a vantagem competitiva da África do Sul com a sua localização estratégica próxima ao gigantesco mercado europeu.