Para atrair investimento e incentivar a transformação digital nas empresas, é preciso confiança nos serviços prestados, mas os números e os casos mais recentes mostram que ainda há um longo caminho a percorrer.
Se por um lado a pandemia teve e continua a ter um impacto negativo na forma como vivemos e interagimos hoje, por outro, foi o grande catalisador de uma transformação digital que provavelmente de outra forma não iria acontecer de forma tão rápida nas organizações.
Numa altura em que se prevê que 65% do PIB global das nações em 2022 (fonte IDC) seja composto por empresas que prestam serviços digitais, é fundamental que estas garantam a segurança dos seus produtos e melhorem os seus processos internos para a gestão dos ciber-riscos de forma a criar uma relação forte de confiança com os seus clientes. A adoção do teletrabalho e a migração rápida de alguns serviços para a cloud, fez com que por vezes os riscos não fossem bem avaliados e não fossem tomadas as precauções devidas.
A tendência e perceção do aumento do número de incidentes de cibersegurança diz-nos que as entidades públicas e privadas têm de continuar a investir na segurança e resiliência dos serviços prestados, de forma a não causar disrupções inesperadas que levem à quebra da confiança dos utilizadores nos seus produtos.
A criação e a manutenção desta confiança traduz-se depois numa maior adoção dos serviços digitais a longo prazo com impactos diretos na economia através do fomento do desenvolvimento tecnológico, criação de novos modelos de negócio e aproximação entre as pessoas e organizações.
Esta visão sobre a confiança nos serviços alinha-se com os pontos em agenda das organizações que têm metas definidas para a sustentabilidade e que integram os critérios Ambiental, Social e de Governança em todas as suas decisões estratégicas ao longo da sua cadeia de valor, onde claramente a cibersegurança tem uma importância de relevo nos processos de gestão do risco, diferenciação e fidelização de clientes.
Reconhecendo a importância da cibersegurança para as suas instituições, Moçambique tem desenvolvido iniciativas através de instituições governamentais como o Banco de Moçambique que emitiu em 2020 directrizes para a Gestão do Risco Cibernético e através do seu Governo que aprovou muito recentemente a Política e Estratégia Nacional de Segurança Cibernética que prevê um conjunto de 25 projectos estratégicos a implementar até 2025.
Alinhado também com outras iniciativas de cibersegurança a delegação de Moçambique do Instituto da Comunicação Social da África Austral (Misa) anunciou no início do ano a preparação de uma proposta de lei de cibersegurança e proteção de dados no país, após um encontro mantido com o Governo. O Misa tem trabalhado no sentido da criação de um pacote legislativo sobre segurança cibernética, defendendo que as medidas devem assentar nos direitos e liberdades dos cidadãos.
Se chegados até aqui conseguimos compreender no papel a importância do tema da cibersegurança enquanto pilar essencial no futuro da economia e sociedade, é necessário que as instituições e entidades reguladoras sejam depois capacitadas para acompanhar e monitorizar o cumprimento dos objetivos traçados e façam cumprir a lei e regulamentos. O recente ataque informático às Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) vem relembrar que a cibersegurança é um trabalho diário que necessita de processos com melhoria contínua e sustentada.
De recordar por fim que de acordo com o Global Cybersecurity Index 2020 da ITU, Moçambique encontra-se em 23º lugar de 43 para a zona Africana e na posição 123º de 182 a nível mundial, mostrando o longo caminho que tem pela frente no campo da cibersegurança e da transformação digital do país.
Existe a vontade de Moçambique querer inovar e de trazer a cibersegurança para outro patamar, seja nos serviços públicos ou privados, mas tem de haver um modelo de governança forte que faça doutrina e que seja aplicado e adoptado por todos sem excepção. Que esse caminho comece nestes meses que faltam até ao fim do ano!