Em tempo de pandemia, com os ginásios fechados, pensou em deixar de beber aquele copo de vinho para cortar nas calorias? Bem, talvez não devesse. Como um cientista alimentar salientou durante um webinar sobre saúde no mês passado, a ingestão moderada de vinho durante as refeições pode ajudar a impulsionar o metabolismo e apoiar a perda de peso.
A Dra. Rosa Lamuela-Raventos, professora associada de nutrição e ciência alimentar na Universidade de Barcelona e membro do Centro Espanhol de Investigação Biomédica em Fisiopatologia da Obesidade e Nutrição, apresentou no passado dia 8 de Junho o seu apoio ao consumo moderado de vinho no “Wine and Weight Management”: Is It Possible?”, um evento virtual organizado pela Wine in Moderation, que consiste num programa de responsabilidade social empresarial centrado no vinho. Numa entrevista recente para a conceituada publicação Wine Spectator, Lamuela-Raventos explicava por que o consumo moderado de vinho pode beneficiar a saúde do coração e como descobertas recentes reforçaram a sua teoria de que o vinho pode ajudar a queimar calorias extra e promover a perda de peso.
Um dos trabalhos de investigação cardiovascular em que Lamuela-Raventos se baseou foi um artigo publicado em 2015 no British Journal of Nutrition, que mostrou apoio aos benefícios acreditados da dieta mediterrânica para a saúde cardiovascular. O estudo observacional analisou dados do ensaio ‘Prevención con Dieta Mediterránea’ (PREDIMED), que incluiu 7500 participantes espanhóis observados entre 2003 e 2011 para estudar os efeitos a longo prazo da dieta mediterrânica. Os investigadores descobriram que a ingestão moderada de vinho tinto estava associada a uma diminuição da prevalência de síndrome metabólica (um grupo de condições que aumentam o risco de doenças cardíacas, AVC e diabetes), principalmente através da redução do risco de ter uma circunferência anormal da cintura, tensão arterial elevada e colesterol.
Um estudo separado do Brasil, em 2016, também mostrou que beber vinho com refeições estava relacionado com uma menor prevalência de síndrome metabólica, e que beber cerveja estava associado a uma maior prevalência. Mas Lamuela-Raventos também utilizou os resultados do ensaio PREDIMED para realçar o que ela pensa ser o maior equívoco no vinho: “calorias vazias”, ou seja, que o vinho contém pouco ou nenhum valor nutricional. Com as crescentes taxas de obesidade e a ideia mal interpretada de “calorias vazias” no vinho, Lamuela-Raventos diz que certas dietas empurraram a bebida alcoólica para fora dos planos de perda de peso, o que é um erro.
“É verdade que as calorias provêm principalmente do etanol, contudo, o vinho é uma rica fonte de potássio, também contém outros minerais e é uma das principais fontes de polifenóis na dieta mediterrânica”, disse Lamuela-Raventos, num e-mail. “[Um copo de vinho] contém aproximadamente 125 calorias por dose, no entanto, as pessoas não estão a considerar que o vinho possa neutralizar estas calorias, que as queima devido ao conteúdo polifenólico”. Um dos mecanismos que ajuda a suportar a perda de peso é a termogénese, ou o efeito termogénico. É um processo metabólico pelo qual os seres humanos queimam calorias a fim de gerar calor.
Lamuela-Raventos argumenta que isso acontece quando se bebe vinho durante as refeições. Ela sugere que polifenóis, como o resveratrol, ajudam o corpo a aumentar a quantidade de tecido castanho, que é um tipo de gordura corporal que transforma comida em calor e ajuda os bebedores de vinho a queimar mais calorias. “Observamos que quando se bebe vinho tinto com moderação, durante as refeições, não se adiciona mais peso ou gordura abdominal”, disse Lamuela-Raventos. “Os compostos de polifenol parecem ser responsáveis por este efeito de controlo de peso sobre a saúde. Também demonstraram que melhoram a microbiota e aumentam a termogénese”.