A economia norte-americana corre o risco de entrar num cenário de deflação caso se confirmem os medos de subida da inflação e o ritmo de crescimento volte a abrandar, depois do fulgor inicial com que arrancou a recuperação pós-Covid.
Quem avisa é o BNP Paribas, que reconhece a possibilidade de a subida na inflação ser, como defende a Reserva Federal, temporária e fruto, sobretudo, de um efeito base juntamente com fortes disrupções às cadeias de fornecimento de várias indústrias. No entanto, o banco teme que parte do efeito agora observável não seja transitório e se deva sobretudo a um desequilíbrio entre procura e oferta.
Na apresentação do estudo “Ressincronização do Crescimento e as suas consequências. Uma Perspectiva Americana e Europeia”, realizada esta terça-feira, o economista-chefe do BNP para os EUA alertou para aquilo a que chama de “uma tempestade perfeita para a subida da inflação de curto prazo”.
Para Daniel Ahn, as “grandes preocupações em torno da inflação são causadas, em grande parte, por uma desconexão entre oferta e procura”, além dos grandes constrangimentos à produção, como os entupimentos nas cadeias de abastecimento. A estes juntam-se o “apoio orçamental muito agressivo”, que levou a um excesso de poupança de 2,2 mil milhões de dólares entre as famílias americanas, e o aumento do preço das commodities, incluindo o petróleo.
Em casos normais, a subida do preço do petróleo beneficiaria o crescimento nos EUA, um produtor deste bem. No entanto, este aumento tem-se espelhado nos custos de produção das empresas, o que constitui outro factor a pressionar os preços na maior economia do mundo.
A contribuir para estas preocupações de estagflação está também o mercado laboral norte-americano. A recuperação do emprego tem vindo a abrandar, depois do forte início de 2021, e muitas empresas reportam dificuldades na contratação, o que exemplifica bem o problema. Para Daniel Ahn, esta será mais uma “fricção” a penalizar a economia dos EUA.
Ainda assim, a expectativa do BNP Paribas passa por uma diminuição progressiva do desequilíbrio entre oferta e procura a iniciar-se no último trimestre do ano, quando os atrasos na produção em diversas indústrias tiverem sido colmatados, pelo que “o cenário não é comparável ao verificado nos anos 70”.
A confirmarem-se as previsões do banco, a Reserva Federal corre o risco de ter de rever os seus planos relativamente ao programa de compra de activos e ao apoio que garantiu dar à economia até que esta atingisse novamente a vitalidade de que gozava antes da chegada da pandemia. Essa é outra das principais preocupações do economista-chefe para os EUA do banco francês.
“Apesar de todos os avisos da Reserva Federal, esta corre o risco de esperar não até as perspectivas para a inflação serem elevadas, mas sim até a leitura da inflação ser já elevada, o que pode ser tarde demais”, rematou.