Num país em que o gás doméstico, o carvão e a lenha – além dos combustíveis rodoviários – são as principais fontes de energia utilizadas no quotidiano pela população, falar de energia renovável pode parecer algo descabido. Desde logo, devido ao facto de apenas um em cada três moçambicanos ter actualmente acesso à energia eléctrica, segundo dados oficiais.
O Presidente Filipe Nyusi divulgou, há algumas semanas, a meta de alargar a toda a população o acesso à electricidade nos próximos 10 anos. Esta promessa foi feita na inauguração da linha de alta tensão Chimuara (Mopeia)-Alto Molócuè, que, com uma extensão de 367 quilómetros, está orçada em 200 milhões de dólares, prevendo-se que esteja concluída no próximo ano. Os investimentos em grandes infra-estruturas são necessários e urgentes, num país que tanto delas necessita.
E o acesso à energia é uma necessidade básica consagrada pela Organização das Nações Unidas nos seus Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, pois é um elemento essencial no combate à pobreza e no desenvolvimento humano. Mas o desenvolvimento tecnológico pode ajudar-nos a dar um salto mais adiante, como aconteceu com as comunicações móveis, que permitiram ligar o país inteiro, mesmo as comunidades mais afastadas, sem a necessidade de levantar linhas.
Da mesma forma, hoje, as energias renováveis, sobretudo a electricidade produzida a partir de painéis solares, permitem o “milagre” de produzir localmente a energia eléctrica, mesmo nas aldeias mais remotas do interior. Isto não é ficção científica, mas uma realidade já implementada em diversas aldeias do nosso País – algumas delas integradas no projecto Energiza, promovido pela Fundação Galp em parceria com o FUNAE, em quatro aldeias nas províncias de Sofala, Manica e Cabo Delgado, beneficiando um total de 6 mil moçambicanos cujas vidas estão a ser mudadas para melhor em aspectos essenciais do dia-a-dia, como a saúde, a alimentação ou a educação.
No final de uma década em que o custo das energias renováveis, em especial dos painéis fotovoltaicos, diminuiu cerca de 90%, e tendo em conta que Moçambique é um país onde o recurso solar abunda, é natural que as energias renováveis, em especial a energia solar, representem um eixo determinante nas metas traçadas pelo Governo de Moçambique, que pretende que 20% da energia produzida em Moçambique, dentro de 20 anos, seja de origem renovável.
Temos de manter o ânimo e perseverar no que está ao nosso alcance para melhorarmos o dia-a-dia dos moçambicanos
Não poderia ser de outra forma, tanto por motivos de racionalidade económica, como ambientais. As alterações climáticas são talvez um dos maiores desafios enfrentados pela Humanidade, e Moçambique está na linha da frente do impacto dos fenómenos climáticos extremos, como foram os casos dos ciclones Idai e Kenneth, em 2019, que provocaram uma devastação sem precedentes nas regiões por onde passaram.
Moçambique parece estar sempre no limiar de um ciclo de desenvolvimento tantas vezes adiado e esse sentimento é hoje, como poucas vezes no passado, intensificado pela situação de instabilidade que se vive em Cabo Delgado, base dos grandes projectos de produção de gás natural. Há muitos factores no desenvolvimento do País que nos ultrapassam e não podemos controlar. Mas temos de manter o ânimo e perseverar no que está ao nosso alcance para melhorarmos o dia-a-dia dos moçambicanos. As energias renováveis podem ser, também elas, renovadoras da esperança num futuro melhor.