Em Cabo Delgado, a ‘força maior’ invocada pela Total para parar os trabalhos de construção da infra-estrutura da Área 1 levou as várias subcontratadas a desmontar e remover infra-estruturas em Palma, desmobilizando qualquer coisa como 7 mil trabalhadores, um evento pouco visto no sector, e que diversos analistas nacionais e no exterior consideram como mau prenúncio inseguro para o investimento.
Mesmo sendo falsa a informação avançada pela imprensa internacional, que dava conta de que a firma francesa TechniPFMC encarregou a empresa sul-africana, Bridge Maritime de desmontar e retirar o equipamento para as ilhas Mayotte, no oceano Índico, algo que a própria total já veio garantir que não irá acontecer, a verdade é que houve uma desmobilização geral em Palma, onde os trabalhos só devem retomar, na melhor das hipóteses, em não menos de um ano. Realisticamente, só dentro de ano e meio a dois anos é que o projecto deve ser retomado na fase em que estava nesta altura.
Para o presidente da Associação Moçambicana de Economistas, Pedro Cossa, este é um “sinal complicado para os moçambicanos, porque o ataque a Palma mina o ambiente de negócios em Cabo Delgado”.
Além da TechnipFMC (que trabalha directamente com a ENI na Área 4), a Saipem, outra subcontratada da Total, estará também a retirar o seu equipamento da península de Afungi, e emitiu recentemente um aviso sobre o seu contrato de 4 mil milhões de euros (4,8 mil milhões de dólares) para as obras em Moçambique LNG, na sequência da declaração de força maior da Total.
Insegurança
À Agência VOA, o analista João Feijó diz que perante a gravidade da ameaça, as companhias não tinham outras opções, acrescentando que “elas começam agora a equacionar os custos de manutenção que têm, e isso depois afecta todo o projecto, os empréstimos, os desembolsos e as receitas”.
Realça também que as empresas estarão também a equacionar que “provavelmente, não será uma solução a curto prazo, tanto mais que a situação continua insegura à volta de Palma, porque desde o ataque de 24 de Março, a situação não estabilizou e continua insegura”.
“Tem de haver vontade política para se ultrapassar a situação em Cabo Delgado, para que as companhias retomem as suas actividades em Palma, porque, de contrário, as pessoas vão ficar muito frustradas”, afirma, por seu turno a analista Inocência Mapisse à agência Voice of America.
Entretanto, João Feijó diz que o desmantelamento da infra-estrutura pode não significar, necessariamente, o abandono do projecto, “mas adiar o investimento para uma altura em que haja maior segurança e em que o mercado seja mais interessante, porque neste momento, os preços do gás são baixos”.
A mesma opinião tem o analista Tomás Rondinho, que afirma que as empresas estão a remover os seus equipamentos “como medida de precaução, porque não acredito que estejam, de facto, a abandonar o projecto”.
A Total suspendeu as suas actividades em Afungi, na sequência do ataque jihadista de 24 de Março, e ainda não se sabe quando é que poderão ser retomadas.
O projecto Moçambique LNG será adiado por “pelo menos um ano” devido à situação de segurança “muito grave” no país do sudeste de África, disse recentemente o Director Financeiro da Total, Jean-Pierre Sbraire, a 29 de Abril. “Obviamente, estes eventos terão impacto no projecto e nesta fase estimamos um impacto de pelo menos um ano de atraso”, disse Sbraire numa chamada de analistas.
“Esperamos que as acções levadas a cabo pelo Governo de Moçambique e pelos seus parceiros regionais e internacionais permitam restaurar a segurança e estabilizar a província de Cabo Delgado de uma forma sustentada”, acrescentou ele.
A Total esperava produzir o primeiro LNG do projecto em 2024, o que significa que agora foi adiado pelo menos até 2025. “Estamos a gerir a situação com empreiteiros para minimizar os gastos enquanto não tivermos clareza sobre a situação”, disse Sbraire.