A consultora Fitch Solutions adiou esta segunda-feira em dois anos a previsão de início da produção de gás natural em Moçambique pela petrolífera Total, alertando que “é cada vez mais provável que haja mais atrasos”.
“A suspensão da Total significa que esperamos agora um significativo atraso no início do projecto, e revimos a nossa estimativa de início de produção de gás do projecto Mozambique LNG para 2026, um adiamento de dois anos face à nossa previsão anterior, de 2024”, escrevem os analistas.
Num comentário enviado aos clientes, e a que a Lusa teve acesso, esta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings escrevem que, “dadas as incertezas sobre a resolução dos ataques dos insurgentes, atrasos adicionais a este calendário são cada vez mais prováveis”.
As declarações dos analistas surgem no mesmo dia em que a Total declarou `Força Maior` para retirar os trabalhadores e suspender o projecto de exploração de gás natural no norte do país, na província de Cabo Delgado.
“A Força Maior dá mais incerteza sobre a Decisão Final de Investimento da ExxonMobil sobre o projecto Rovuma LNG, na vizinha Área 4”, apontam os analistas, concluindo que apesar de haver mais riscos em ambos os projectos, o interesse do Governo em avançar com o projecto e o desejo das companhias de lucrarem com o gás do país “não deverão resultar em qualquer cancelamento dos projectos, apesar de os riscos de segurança continuarem críticos”.
A empresa “continua comprometida com Moçambique e com o desenvolvimento do projecto da Área 1 quando as condições o permitirem, e continuará a acompanhar a evolução da situação
Em causa está a declaração de `força maior` para a retirada de todo o pessoal que estava a trabalhar no projecto de exploração de gás natural, liderado pela Total na península de Afungi, no norte de Moçambique, e no qual assentam grandes esperanças relativamente ao financiamento do desenvolvimento económico do país.
A petrolífera já tinha afirmado esta manhã à Lusa que “no ambiente actual, a Total não pode continuar a operar na província de Cabo Delgado de maneira segura e eficiente, por isso todo o pessoal do projecto foi retirado do local e não voltará até que as condições o permitam”.
A empresa “continua comprometida com Moçambique e com o desenvolvimento do projecto da Área 1 quando as condições o permitirem, e continuará a acompanhar a evolução da situação com grande atenção, em estreito contacto com as autoridades”, disse a porta-voz da empresa, Anastasia Zhivulina, quando questionada sobre se a declaração de “força maior” implica a suspensão ou o cancelamento do projecto.
Anastasia Zhivulina referiu que “a `força maior` foi declarada porque a Total é incapaz de cumprir as suas obrigações em resultado da severa deterioração da situação de segurança em Cabo Delgado, um assunto que está completamente fora do controlo da Total”.
Avaliado em 20 mil milhões de euros, trata-se do maior investimento privado em curso em África.
Uma semana depois do ataque de 24 de Março contra a sede de distrito de Palma, a petrolífera retirou todo o pessoal e abandonou por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás na península de Afungi, seis quilómetros a sul da vila.