A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) e a Total criaram uma equipa conjunta para enfrentar o “pesadelo” dos pagamentos em atraso a empresas moçambicanas, após o ataque a Palma e saída da petrolífera de Cabo Delgado.
“Decorrente dos ataques terroristas, a CTA apresentou as preocupações do sector privado à Total e ao embaixador de França”, durante reuniões mantidas esta terça-feira, e de entre várias questões destacam-se o atraso nos pagamentos que se está a tornar “num pesadelo para o sector privado”, referiu Agostinho Vuma, presidente da principal associação patronal.
Vuma falava em conferência de imprensa, em Maputo, após os encontros que manteve com a direcção da Total e o embaixador da França em Moçambique.
Segundo Agostinho Vuma, a Total informou estar a “trabalhar arduamente para encontrar soluções para os contratos em curso, através das contratadas” e disse que “não tem pagamentos atrasados”.
Assim, a CTA e a petrolífera acordaram “criar uma ‘task force’ conjunta para mapear os pagamentos pendentes e cujas mercadorias tinham sido ordenadas pelas contratadas” e “facilitar, contrato a contrato, o cumprimento das obrigações com as pequenas e médias empresas moçambicanas”.
“A Total garantiu que já pagou a todas as empresas com as quais tem contrato, mas estas empresas também subcontrataram outras, na sua maioria moçambicanas, que podem não estar a efectuar pagamentos”, detalhou.
A CTA, junto do Governo e da Total, está a fazer o esforço necessário para minimizar essa questão o mais rápido possível
O passo seguinte consiste em “fazer um levantamento para ver quais são estas empresas e o que se está a passar”, declarou Agostinho Vuma.
O líder da CTA sublinhou a preocupação com o dinheiro gasto em mercadorias por entregar, numa altura em que o projecto parou por tempo indeterminado.
“Nos encontros, foi preocupação da CTA obter da Total clareza quanto às mercadorias em trânsito e em armazém por ser entregues. A CTA, junto do Governo e da Total, está a fazer o esforço necessário para minimizar essa questão o mais rápido possível”, afirmou Vuma, acrescentando que há da parte da petrolífera” garantia” de que a situação está a ser “acautelada”.
O líder da CTA disse ainda que tanto o embaixador francês como a Total descartaram qualquer deslocalização do projecto de gás para as ilhas Maiote, zona que forma um departamento ultramarino francês, cerca de 600 quilómetros ao largo de Palma: “Não a têm como opção para o projecto”, apenas “para instalação de serviços hospitalares” para transferência de quadros.
A petrolífera abandonou por prazo indeterminado o megaprojecto de exploração de gás natural da bacia do Rovuma, maior investimento privado em África no valor de cerca de 25 mil milhões de dólares
A Total garantiu ainda que a segurança do recinto do projecto na península de Afungi está a ser acautelada pelo Governo e que decidiu “manter equipamentos no local, como sinal de que não pretende transferir-se para outros pontos, como as ilhas Maiote”, nem pretende “terminar o projecto”.
A petrolífera abandonou por prazo indeterminado o megaprojecto de exploração de gás natural da bacia do Rovuma, maior investimento privado em África no valor de cerca de 25 mil milhões de dólares, após o ataque de um grupo armado à vila de Palma em 24 de Março.
O ataque, o mais recente em três anos e meio de insurgência, provocou dezenas de mortos (ainda sem balanço oficial) entre residentes e colaboradores ligados ao projecto.
Apesar das tentativas realizadas desde então, a Lusa ainda não conseguiu obter esclarecimentos por parte da petrolífera em relação ao futuro do projecto.
Agostinho Vuma recordou esta terça-feira os dados que havia avançado na última semana em entrevista à Lusa: 410 empresas fecharam e 56 mil empregos desapareceram nos distritos afectados, registando-se 80 milhões de euros de impacto (destruições, atrasos de pagamentos e mercadorias em trânsito sem certeza da entrega).
Vuma disse que os dados incluem o ataque de Palma e que, em retrospetiva, Mocímboa da Praia é o distrito mais afectado.
Segundo havia referido à Lusa, fecharam ainda outras 700 empresas fora dos distritos sob ataque e 143 mil camponeses largaram o setor agrário familiar desde o início do conflito.