Os meus lugares de Maputo não são os novos malls à beira-mar nem os centros comerciais com luzes violetas.
Ainda gosto de ir à Baixa da cidade, ao Mercado Central na Avenida 25 de Setembro. As cores são vibrantes e a atmosfera é sempre alegre. Legumes, frutas, peixe, carne, quinquilharia e mechas para cabelo e uma enorme secção de artesanato. Dou sempre um salto à Casa Elefante, mesmo em frente ao bazar, para apreciar as últimas capulanas.
Também gosto de ir ao mercado Janete, ao fundo da Avenida Mao Tse Tung, porque oferece uma enorme variedade de produtos frescos e uma grande secção de vestuário e calçado em segunda mão. Dali vou à FEIMA, o espaço dedicado ao artesanato no Parque dos Continuadores, onde posso comer a rica e variada comida moçambicana que não é feita apenas de camarão grelhado!
Se eu fosse vosso guia, falar-vos-ia da arte de Moçambique que, tal como o país, resulta de múltiplos relacionamentos culturais. Malangatana, Chissano, Bertina Lopes, Shikani, e tantos outros, continuam símbolos imortais e fontes de inspiração.
Actualmente, a arte em Moçambique vive um momento de transição com artistas a explorarem outras expressões e direcções na arte contemporânea: diversidade e complexidade dos estilos e sons presentes, resultantes da mistura de influências tanto tradicionais como globais, enquanto o sentido de colaboração que parece estar em constante crescimento, finalmente, está a ajudar a mostrar os meandros da cena fora da cidade.
Mostrar-vos-ia toda a beleza dos murais de Naguib e outros artistas em vários pontos da cidade e iríamos juntos visitar as exposições de arte. Em primeiro lugar, o Museu Nacional de Arte, que abriu ao público em Maputo, em 1989, na antiga Câmara Municipal, por iniciativa de Malangatana. No espaço atrás do museu, encontramos os escultores Makonde que fazem algumas das máscaras mais invulgares e apelativas de África: toda a cabeça é esculpida e não apenas o rosto. E enquanto a maioria das máscaras africanas são abstractas, o requinte da talha Makonde permite-lhes uma qualidade quase realista.
Daríamos um salto ao Núcleo de Arte, que mantém o espírito de oficina de arte e de espaço expositivo. Foi aqui que começou Gonçalo Mabunda, o escultor mundialmente conhecido com as suas cadeiras e crucifixos feitos de armas. As suas esculturas há muito deixaram de integrar apenas as armas. Mas não resiste a uma AK47! Abriu as portas da sua residência e, juntamente com o fotógrafo Mauro Pinto, criou o projecto “Karl Marx 1834”, para mostrar as mais diversificadas manifestações artísticas da cidade de Maputo. Depois iríamos até à Universidade Eduardo Mondlane para visitar a sua colecção de arte nacional.
Passaríamos pela Mediateca do BCI e depois iríamos até à Kulungwana – Associação para o Desenvolvimento Cultural que, entre outras actividades, possui um espaço-galeria com um programa regular de exposições.
Certamente há algo na Fundação Fernando Leite Couto que, semanalmente, além dos encontros com jovens escritores, organiza exposições de todas as expressões artísticas, pintura, escultura, fotografia, traçando a agenda cultural da capital moçambicana.
Depois seria a volta à 16Neto, um espaço único de trabalho conjunto, criativo e cultural.
No dia seguinte, convidar-vos-ia para uma caminhada matinal no “calçadão” da Marginal porque, ainda que Maputo seja uma cidade que oferece um vasto leque de actividades, instalações e espaços para praticar diversas disciplinas, eu gosto do “calçadão” até ao novo Mercado do Peixe e de ver a ilha da Xefina ao fundo. Faríamos o roteiro de três horas a pé no bairro histórico da Mafalala, onde moraram grandes personalidades da História do País: Samora Machel, Noémia de Sousa, José Craveirinha, Eusébio… e comeríamos pão com badjias.
Desafiava-vos ainda a comer deliciosos gulabos na loja do Templo Hindú, da Avenida Guerra Popular, e depois convidar-vos-ia para tomar um copo no Dhow ou no Hotel Cardoso para apreciar o pôr-de-sol de Maputo que, apesar de todas as tentativas, é sempre mais “alto” do que os novos edifícios que querem chegar até ao céu.
Texto de Paola Roletta Publicado nas revistas Índico e na Economia & Mercado.
Como ir
Através da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) que voa para Maputo a partir de Lisboa, Dar-es-Salaam, Nairobi e Joanesburgo.
Onde comer
A Figtree Guesthouse, no coração da Sommerschield, é um bed&breakfast elegante e acolhedor. O Polana Serena Hotel, na Avenida Julius Nyerere 1380, é o hotel mais antigo da capital moçambicana.
Onde comer
O Campo di Mare, na Marginal, tem uma maravilhosa varanda que se debruça sobre a baía e serve massas frescas feitas à mão, salada de caranguejo, carpaccio de polvo, etc. O Zambi, na Avenida 10 de Novembro, é considerado um dos melhores restaurantes de Maputo. Com grande história e tradição, serve atum e mariscos e uma picanha superlativa, entre outros pratos da rica ementa. O Lugar e Meio, na Avenida Francisco Orlando Magumbwe, serve falafel, o atum braseado, etc.
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