Os portos da costa sudeste de África estão a competir para capturar uma parte do tráfego que será gerado pela construção de trens de liquefacção pela Total fugindo desta forma à insegurança na província de Cabo Delgado.
Os ataques ocorridos em Palma desde 24 de Março, a apenas 10 quilómetros da Península de Afungi onde estão a ser construídos os dois trens de liquefacção da Total (que irão produzir 12,9 milhões de toneladas de GNL por ano), forçaram o grupo francês a suspender as suas operações no local e a desmobilizar todos os trabalhadores da região. Uma consequência provável destas ameaças à segurança do projecto é que os subcontratantes estão a começar a olhar para portos fora de Moçambique, considerados menos perigosos.
Localizado a cerca de 80 quilómetros da península de Afungi, o porto tanzaniano de Mtwara é um exemplo dessa lógica que já está a ser seguida. Gerido por Juma S. Kijavara, poderá constituir uma alternativa viável para uma parte do tráfego que não pode descarregar em Cabo Delgado devido a razões de segurança pela reduzida capacidade de armazenamento dos portos moçambicanos.
De resto, este ‘desvio’ até já é uma realidade, desde que a gigante coreana da logística que , a CJ ICM, com sede no Dubai, já escolheu esta rota ao assinar um contrato com Kijavara para utilizar o Porto de Mtwara e a sua capacidade de armazenamento de material destinado ao projecto de gás da Total.
No início de Março um primeiro navio descarregou 15.000 metros cúbicos de equipamento dos empreiteiros da Total para o projecto de GNL. A carga pertenceu às empresas de construção Mota-Engil de Portugal e Besix da Bélgica (que celebraram um contrato de 365 milhões de dólares no ano passado com o principal empreiteiro da Total, a CCS, uma joint venture entre a McDermott International, Saipem e Chiyoda).
Apesar do projecto da Total ter sido suspenso em Janeiro devido à insegurança, uma segunda embarcação Mota-Engil/Besix já está prevista para Abril em Mtwara
Espera-se que a Mota-Engil e a Besix trabalhem a longo prazo com a CJ ICM no Mtwara. A CJ ICM poderá transportar o material armazenado no Mtwara, a apenas algumas horas por mar de Afungi. Apesar do projecto da Total ter sido suspenso em Janeiro devido à insegurança na região, uma segunda embarcação Mota-Engil/Besix já está prevista para Abril em Mtwara.
O sucesso do Mtwara em atrair novos utilizadores assenta na ‘falsa partida0 das actividades da Total em Cabo Delgado, que têm estado paradas nos últimos três meses, sabendo-se agora que assim irão continuar depois dos ataques de dia 24, semanas depois de Moçambique ter assegurado ter conseguido assegurar uma faixa de 25 km à volta do local, tal como Patrick Pouyanné, CEO da Total, solicitou ao Presidente Filipe Nyusi e um dia depois de a própria Total em conjunto com o Governo terem anunciado o normal retomar dos trabalhos.
Segurança, proximidade e disponibilidade são fundamentais
Para além da situação conjuntural de insegurança na região de Cabo Delgado, a utilização do Mtwara, no sul da Tanzânia, é também vantajosa porque o porto está praticamente vazio durante três trimestres do ano, fora o período de exportação de castanhas de caju entre Outubro e Dezembro.
Isto significa que os barcos não têm de esperar ao largo para que um local se torne livre, como é o caso da maioria dos portos da área, como Dar es Salaam. Depois, os portos de Palma ou Mocímboa da Praia ou são arriscados devido aos grupos jihadistas ou, os casos de Pemba ou Nacala, acabam por estar mais longe do projecto de Afungi. Mtwara, uma vez que não apresenta custos de espera, representa por isso mesmo alternativa barata, ainda que os custos de armazenamento impostos pelas autoridades tanzanianas sejam mais elevados que os aplicados nos portos nacionais.
Enquanto se espera que a Total confirme nas próximas semanas em que medida utilizará a ilha francesa de Mayotte, que se situa ao lado das Comores, se como área logística de recurso para o seu desenvolvimento do GNL em Moçambique, ou se mais do que isso.