Há dois anos atrás, durante a Cimeira Africana da Economia da Vida Selvagem em Victoria Falls, conheci a uma mulher fantástica com quem mais tarde viria a criar uma bonita amizade. Ela era Sargento das Akashinga; uma unidade especial de combate à caça furtiva no Zimbábue, constituído apenas por mulheres. Akashinga, de origem Shona significa ‘As corajosas’.
Esta mulher, a Sargento Vimbai Kumire, vinha apresentar o trabalho da sua unidade e partilhar a sua história pessoal com uma plateia de mais de 500 participantes que incluía delegados governamentais de todo o continente, representantes de organizações internacionais, acadêmicos, cientistas, conservacionistas e curiosos.
Fiquei intrigada desde o início, pois o apresentador descreveu a Sargento Kumire como uma líder feroz, uma guerreira com uma coragem sem limites, no entanto os meus olhos estavam pousados no palco, na figura de uma mulher de estatura média, de ombros largos e cabeça rapada, esbelta, que trazia um vestido preto justo e saltos altos.
Ela aproximou-se ao microfone e com voz firme iniciou – ‘Bom dia senhores e senhoras, eu sou a Sargento Vimbai Kumire, tenho 33 anos e sou líder de dois esquadrões de mulheres que patrulham a área protegida de Phundundu no Zimbábue’. ‘Nesta área residem por volta de onze mil elefantes. ’ Continuou Kumire – ‘Aqui as Akashinga aprendemos a gostar dos animais selvagens como se fossem os nossos próprios filhos, por isso não vamos deixar que nada nem ninguém coloque em perigo a vida destes animais’.
A medida que avançava, apareciam na tela imagens de mulheres fardadas e armadas que atravessavam rios e algemavam caçadores furtivos. Aprendi que estas fiscais estão na primeira linha de combate onde estão sempre prontas para enfrentar a pior das situações. Por isso as Akashinga são sujeitas a uma dura formação onde devem superar os ‘4 pilares da miséria’; fome, cansaço, frio e água. Mas elas são invencíveis.
Março é o mês da mulher e como feminista, não podia deixar de homenagear a todas as mulheres que como a minha amiga, ‘A Corajosa’ se dedicam à conservação
No intervalo de café, encantada com este movimento revolucionário feminino que acabava de descobrir, fui ao encontro de Kumire e perguntei-lhe, de uma mulher para outra, de onde vinha tanta força ao que ela respondeu – ‘O meu marido abandonou-me e deixou-me com duas filhas’ – disse Kumire – ‘quando a Fundação Internacional Contra a Caça Furtiva iniciou o programa de recrutamento feminino na minha aldeia, não hesitei. Durante anos fui sujeita a abusos e maus tratos por isso não tive medo de enfrentar este desafio. Na verdade, todas as mulheres Akashinga já passaram por situações parecidas, por isso estamos aqui. Quem melhor para proteger os animais ameaçados do que as próprias mulheres que conhecem o que é ser vitima de abuso e maltrato? ’.
Março é o mês da mulher e como feminista, não podia deixar de homenagear a todas as mulheres que como a minha amiga, ‘A Corajosa’ se dedicam à conservação.