Enquanto o acordo anunciado para o reforço da segurança não tem efeitos visíveis no terreno, a petrolífera francesa continua a desmobilizar pessoal das obras do megaprojecto de gás natural na bacia do Rovuma em Cabo Delgado, um mês após ataques junto ao empreendimento naquela região do norte de Moçambique, disse esta quinta-feira a empresa.
“Face à evolução da situação de segurança na província de Cabo Delgado e no distrito de Palma”, o consórcio da Área 1 – Mozambique LNG liderado pela Total decidiu “reduzir o pessoal presente no local do projecto em Afungi”, indicou.
“O processo de desmobilização está em curso de forma organizada e em conformidade com os protocolos estabelecidos”, detalhou ontem a empresa, depois de questionada sobre se já teria havido uma retoma das actividades.
Um primeiro anúncio de redução foi feito em Dezembro, logo após o ataque a cinco quilómetros do recinto do investimento.
Passado um mês, a Total “está a acompanhar a evolução da situação de segurança no norte de Moçambique com a maior atenção, em conjunto com as autoridades moçambicanas”.
A empresa diz ter em atenção “todas as medidas necessárias para garantir a segurança e protecção do seu pessoal e das suas subcontratadas”.
O contexto levou o presidente da petrolífera francesa, Patrick Pouyanné, a viajar até Maputo e reunir-se com o Chefe do Estado moçambicano, Filipe Nyusi, em 18 de Janeiro.
O encontro foi mantido sob máxima discrição e apenas foi anunciado o acordo quanto a um novo reforço de segurança em redor do empreendimento de gás natural em Cabo Delgado – isto após uma outra revisão aos termos da protecção ao complexo que já tinha sido feita a 24 de Agosto de 2020 e que levou até a companhia francesa a começar a contactar os trabalhadores que haviam sido evacuados no princípio do ano e que ficaram provisoriamente em Maputo, a estarem de prontidão para retornar ao Norte do país, e ao trabalho, facto que, ao que o DE apurou, carece ainda de data definida.
Avaliado entre 20 e 25 mil milhões de euros, o megaprojecto de extração de gás da Total é o maior investimento privado em curso em África, suportado por diversas instituições financeiras internacionais e prevê a construção de unidades industriais e uma nova cidade entre Palma e a península de Afungi.
A primeira exportação de gás liquefeito está prevista para 2024.
No projecto recaem as principais esperanças de crescimento económico de Moçambique na próxima década, depois de o outro grande projeto de exploração de gás (Área 4), liderado pela Exxon Mobil e ENI, ter sido adiado – cabendo a este consórcio da Área 4 a exploração de uma menor quantidade de gás através de uma plataforma flutuante a partir de 2022.
A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
Algumas das incursões de insurgentes passaram a ser reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico desde 2019.