As autoridades moçambicanas passaram a recusar a entrada a motoristas com testes de antigénio ao covid-19 válidos, insistindo agora também em testes PCR negativos até 72 horas como na África do Sul, disse a entidade regional de transportadores.
“Os viajantes com um teste PCR negativo válido com menos de 72 horas podem fazer a travessia sem problemas, o problema surgiu quando as autoridades de Saúde na África do Sul se recusaram a aceitar testes de antigénio negativos de Moçambique e isso foi alargado aos camionistas”, explicou à Lusa Mike Fitzmaurice, presidente da Federação das Associação de Transportes Rodoviários da África Austral e Oriental, (Fesarta, sigla em inglês).
“Isso resultou numa reação de Moçambique, que agora não aceita [a entrada de] motoristas da África do Sul que tinham testes de antigénio válidos negativos por 30 dias, e insistem agora em testes PCR negativos válidos até 72 horas”, explicou.
O dirigente sul-africano adiantou que “muitos desses motoristas que tinham testes de antigénio sul-africanos válidos já se encontravam à espera na fila de sete quilómetros no lado sul-africano e que agora devem ser novamente testados por meio de um teste PCR, em Komatipoort, tendo de esperar mais 24 a 48 horas pelos resultados do teste antes de poderem entrar em Moçambique”, frisou Mike Fitzmaurice.
De acordo com o dirigente dos transitários da África Austral e Oriental, as regras de covid-19 introduzidas pelas autoridades da Saúde da África do Sul, que exige a apresentação de um teste PCR à covid-19 negativo válido até 72 horas antes da entrada no país, ou a realização de um teste de antigénio por 170 rands na fronteira, é uma das principais razões pelo atual ‘congestionamento’ na principal fronteira entre os dois países.
Em Maputo, o Ministério da Saúde moçambicano disse ter montado brigadas de testagem em Ressano Garcia, mas, segundo as autoridades do país vizinho, a África do Sul tem rejeitado os testes rápidos feitos do lado moçambicano
“Devido ao baixo custo do teste de antigénio no lado sul-africano da fronteira, a maioria dos viajantes optou por não fazer o teste PCR, que é mais caro em Maputo, cerca de 5 000 meticais ou 1 000 rands, isto causou um congestionamento massivo na fronteira e os funcionários da saúde ficaram sobrecarregados e esta foi a causa direta do congestionamento no lado de Moçambique”, adiantou à Lusa.
Segundo a fonte, o distanciamento social quase não existe “quando grandes grupos de pessoas são forçados a reunir-se numa área confinada à espera de serem processados pela imigração e pelas autoridades de Saúde”.
“Também há muitas famílias com crianças e bebés, idosos retidos nos seus carros e em táxis por vários dias e noites, em temperaturas excessivas com pouca ou nenhuma água e comida, e também sem uma casa de banho”, sublinhou.
Contactado pela Lusa, o porta-voz do ministério do Interior sul-africano escusou-se a comentar a situação de crise que se vive naquela fronteira, remetendo para as autoridades de saúde o esclarecimento da situação.
“A imigração faz o que todos os funcionários da imigração em todo o mundo fazem, aplica as leis de imigração, como garantir que as pessoas viajem com passaportes e autorizações válidos”, afirmou à Lusa, Siya Qoza
“O ministério que regulamenta os certificados do covid-19 e outras questões de saúde é o ministério da Saúde”, adiantou.
As transportadoras de Crómio, que costumavam fazer quatro viagens de Steelpoort, na África do Sul, para Maputo, ida e volta, agora só conseguem fazer apenas uma viagem em cinco dias, o que afectou a sua sustentabilidade para sobreviverem
Até momento, a Lusa não obteve qualquer resposta do ministério da Saúde sul-africano.
Em Maputo, o Ministério da Saúde moçambicano disse ter montado brigadas de testagem em Ressano Garcia, mas, segundo as autoridades do país vizinho, a África do Sul tem rejeitado os testes rápidos feitos do lado moçambicano, sem que haja, até aqui, alguma justificação, explicou quinta-feira à Lusa o porta-voz do Serviço Nacional de Migração (SENAMI) de Moçambique, Celestino Matsinhe.
Mike Fitzmaurice explicou à Lusa que, na quarta-feira, a fila de espera dos camiões na fronteira para entrar na África do Sul era de 25 quilómetros, enquanto que a dos veículos privados e táxis, se estendia a 10 quilómetros “por vezes com quatro faixas que bloqueavam a livre passagem de pesados”.
O impacto económico em termos de perda de receitas para o sector dos transportes, referiu a mesma fonte, ascende a 33 milhões de rands por dia.
“Isso não cobre a responsabilidade dos transportadores para com os seus clientes pelos atrasos na entrega, no carregamento nas viagens de regresso, os assaltos e roubos que são alvo nas longas filas de espera sem segurança por vários dias e noites, e mercadorias estragadas (perecíveis) em temperaturas excessivas, sem falar no aumento dos seguros”, explicou à Lusa.
Na óptica de Mike Fitzmaurice, os pequenos transportadores “não serão capazes de absorver esses custos” e sobreviver à pandemia do novo coronavírus já causou 1 170 590 infecções e 31 809 mortes na África do Sul desde março do ano passado, segundo as autoridades da saúde sul-africanas.
“As transportadoras de Crómio, que costumavam fazer quatro viagens de Steelpoort, na África do Sul, para Maputo, ida e volta, agora só conseguem fazer apenas uma viagem em cinco dias, o que afectou a sua sustentabilidade para sobreviverem”, afirmou à Lusa.
Agência Lusa