Sofrimento. Drama. Incerteza. Pouco mais haverá a reportar sobre o quadro sombrio no qual repousa o que sobra da dignidade de centenas de moçambicanos que vivem atolados no nada no posto de travessia de Ressano Garcia.
O seu “pecado” é tentar atravessar a fronteira rumo à vizinha África do Sul, país que se outorga o título de irmão, mas que, segundo apurámos no local, dos próprios circunstantes, pouco conserva dos laços históricos de fraternidade, consanguinidade e de luta comum contra os opressores do apartheid.
Filas de viaturas, de sete a dez quilómetros, desenham um cenário dantesco, de tipo colocar todo um país de joelhos. Sob sol escaldante, homens, mulheres e crianças estão ali a cinco, quatro, três dias e ainda não sabem quantos dias mais permanecerão ali até seguirem viagem.
Já as filas alcançaram os vinte quilómetros. Ameaçados pelas autoridades moçambicanas que lhes fixaram a reciprocidade no tratamento aos seus cidadãos, acantonaram na fronteira de Lebombo técnicos de laboratório em quatro postos de testagem do covid-19, permitindo uma ainda inconsistente onda de transporte de pessoas e bens.
Resultado: as filas continuam longas. As pessoas vivem literalmente do nada. Ali não há casas de banho. Há pessoas que não tomam banho há dias. Saíram de casa na esperança de viagem imediata. Traziam poucos mantimentos e os recursos minguam a cada minuto.
A vila fronteiriça transformou- -se, por estes dias, num vale de lamentações, de lágrimas, de preces.