O relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apresentado ontem, tem como objectivos reconhecer novos riscos, reduzir a “pressão planetária” e olhar para a natureza como “colaboradora” do desenvolvimento humano, declarou o director, Pedro Conceição.
O economista português e director do Gabinete do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD disse hoje, na primeira apresentação virtual do relatório em 30 anos, que o desafio para o estudo foi reconhecer e confrontar “uma nova geração de riscos” que se estão a formar no mundo, a nível ambiental, económico e social.
Os novos riscos, apesar de estarem em fase inicial, foram já “sobrepostos” e “exacerbados” durante a pandemia de covid-19, disse Pedro Conceição, antecipando um leque de “mudanças globais” que vão poder sentir-se no planeta.
Alguns dos novos riscos indicados por Pedro Conceição foram os impactos económicos acrescidos que as mulheres sofreram, ao contrário dos homens, juntamente com a mudança das expectativas sociais sobre o papel e trabalho das mulheres, mas também riscos ambientais que os países mais vulneráveis vão sofrer no futuro.
Achim Steiner, administrador do PNUD, declarou, no mesmo evento virtual, que 2020 foi um “ano longo e obscuro” que ameaçou reverter décadas de desenvolvimento, relembrando que a ciência lançou avisos da aproximação de uma pandemia global como o covid-19, porque os humanos “desistiram da natureza”.
É necessária uma transição para um desenvolvimento ecológico e mais sustentável, acrescentando que o mundo tem de decidir fazer as coisas de maneira a diferente
A pandemia de covid-19, mudanças climáticas e desigualdades estão todas interligadas e sendo grandes obstáculos para o desenvolvimento, apresentam um momento em que “a humanidade está a travar guerra contra si própria”, disse Achim Steiner, definindo a “era dos humanos” ou “antropoceno”, título do relatório.
Pedro Conceição destacou três mecanismos que o relatório ontem apresentado indica para “habilitar e encorajar as pessoas a fazer escolhas diferentes”, como introduzir “novas normas sociais” para reduzir a pressão no planeta ou criar “incentivos e regulações para promover acções” e mudanças no consumo, investimentos ou “prioridades”.
O terceiro mecanismo é “olhar para natureza como um potencial colaborador para o avanço do desenvolvimento humano” e não como “um constrangimento”.
Achim Steiner defendeu que é necessária uma transição para um desenvolvimento ecológico e mais sustentável, acrescentando que o mundo tem de “decidir fazer as coisas de maneira diferente”.
O relatório combina a sabedoria da experiência de vida e a capacidade de olhar para o futuro com coragem e vontade de assumir responsabilidades
“Se nós não agirmos, as futuras gerações nem vão ter outra opção”, disse.
O administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento destacou que o relatório “combina a sabedoria da experiência de vida e a capacidade de olhar para o futuro com coragem e vontade de assumir responsabilidades”.
Stefan Lofven, primeiro-ministro da Suécia, país anfitrião para o lançamento do 30.º relatório do PNUD, destacou que o produto interno bruto (PIB) já não é a única medida de sucesso, sendo que o PNUD coloca os países num ‘ranking’ de acordo com a qualidade da sua saúde, educação e padrões de vida.
O primeiro-ministro sueco mostrou-se satisfeito que o relatório inclua medidas “planetárias” e “inspiração e recomendações para virar as coisas”.
Sob o tema “A Próxima Fronteira: Desenvolvimento Humano e o Antropoceno”, o relatório do PNUD, que assinala este ano o seu 30.º aniversário, observa que, pela primeira vez, “numa relação de 300 mil anos” em vez de ser o planeta a moldar os humanos, são os humanos que estão a moldar o planeta.
Agência Lusa