As famílias do interior centro de Moçambique – sul de Tete e norte de Manica – estão a enfrentar dificuldades crescentes no acesso a comida e devem entrar numa fase de crise alimentar devido à baixa produção agrícola, segundo um relatório divulgado hoje.
“Sinais de crise (IPC fase 3) começarão a surgir em outubro nas províncias do sul de Tete e do norte de Manica devido a um nível abaixo da média de armazenamento de alimentos e ao poder de compra limitado das famílias” para recorrerem a mercados, lê-se no relatório da rede humanitária de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, sigla inglesa).
Na previsão para os próximos cinco meses, a rede coloca aquela zona a laranja no mapa do país, sinal de crise (IPC fase 3) até agora reservado apenas para a província norte de Cabo Delgado, devido à violência armada, e para o sul, por causa da seca.
O IPC é uma classificação internacional sobre a fase em que se encontra a segurança alimentar (da sigla inglesa Integrated Food Security Phase Classification) e varia entre um, inexistente, a cinco, fome severa.
Os alimentos armazenados “geralmente duram até Outubro ou Novembro, mas a colheita de 2019 durou até Março e a safra de Abril de 2020 começou a esgotar-se muito mais cedo que o normal, devido a uma quebra generalizada da produção agrícola de 2019/20”, acrescenta.
Quem já recuperava de choques anteriores, “incluindo as secas em 2017/18 e 2015/16 (com o fenómeno meteorológico El Niño), não ganhou o suficiente com a temporada”.
Muitos agregados familiares pobres do sul de Tete e norte de Manica “consomem alimentos silvestres” e sujeitam-se a receber pagamentos “abaixo da média com a produção e venda de carvão, tijolos, artesanato, atividades de mineração artesanal e venda de galinhas”, acrescenta.
A Fews, Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome, agrega organizações norte-americanas e serve como ferramenta de auxílio à ação humanitária.