Tudo é superlativo no projecto de construção do Projecto de Gasoduto African Renaissance (Renascimento Africano): a sua extensão, com cerca de 2600 quilómetros, atravessando oito províncias de Moçambique (2175 km) e mais duas de África do Sul (425 km); a capacidade, podendo entregar 18 mil milhões de m3, o equivalente a 13,2 milhões de toneladas de Gás Natural Liquefeito (GNL), e, finalmente, o seu efeito multiplicador, podendo alavancar investimentos globalmente orçados em cerca de 63 mil milhões de dólares.
Foi com a grandeza dos números e correlativo optimismo que Kwasi Agbley, assessor do Conselho de Directores da African Renaissance Pipeline Ltd, apresentou o projecto do mega gasoduto na sessão de ontem do Mozambique Gas Virtual Summit. De acordo com Agbley, o Gasoduto African Renaissance pretende ser “a coluna vertebral do desenvolvimento de toda a região África Austral”, e o pedido de concessão será entregue, garantiu, já na próxima segunda-feira (dia 2 de Novembro). E, se for aprovado “nos próximos três meses, a construção do projecto irá arrancar, com a primeira fase – da Bacia do Rovuma à Província de Maputo – a ficar concluída em 2025″, afirmou. O investimento previsto também não é pequeno: cerca de 6 mil milhões de dólares.
Um montante que já estará garantido graças ao consórcio African Rennaissaince Pipeline Limitada (ARPL) que integra a ENHL (20%), a Profin Consulting SA (36%); a Progas Investment (Ptv) Limited (24%); e a China Petroleum Pipeline Bureau International – CPP (20%). Um ajuntamento cujos cabedais dispensam o recurso ao erário público moçambicano, de acordo com Kwasi Agbley. “Temos uma infra-estrutura de transporte de classe mundial, que foi financiada sem qualquer garantia governamental, nem um centavo; é puramente impulsionado comercialmente pelo sector privado e tem sido financiado numa base de custo limitado”, declarou.
As populações que, vivendo num raio de dois quilómetros em relação ao mega gasoduto, terão de ser realojadas. O projecto obrigará ao reassentamento da população de 151 aldeias e cidades, afectando 157 442 famílias.
Parte desse montante será para indemnizar as populações que, vivendo num raio de dois quilómetros em relação ao mega gasoduto, terão de ser realojadas. E, também neste caso, os números são enormes. De acordo com cálculos apresentados por Kwasi Agbley, o projecto obrigará ao reassentamento da população de 151 aldeias e cidades, afectando 157 442 famílias. Moçambicanas, que do lado sul-africano, como o mega gasoduto passa, em grande parte, pela província de Mpumalanga, terminando em Gauteng, encontra “uma série de grandes cidades e vilas ao longo da rota”, o que se torna mais problemático.
Um pequeno preço a pagar pelos benefícios perspectivados por Kwasi, que concluiu a sua intervenção no primeiro dia da Mozambique Gas Virtual Summit elencando as virtudes do Gasoduto African Renaissance: por um lado, na distribuição para consumo doméstico moçambicano, claro, mas também para a vizinhança. De acordo com Kwasi Agbley, “estão previstas ramificações para as principais cidades e vilas num bom raio do gasoduto; e extensões para o Botswana, República Democrática do Congo, e- Swatini, Malawi, Zâmbia e Zimbabué, além de África do Sul”.
Mas o impacto alegado por Kwasi Agbley é muito mais vasto: “Potencial para catalisar e alavancar um valor estimado de 63 mil milhões de dólares em indústrias petroquímicas a montante e a jusante, com investimentos correlacionados e multiplicadores”, diz. Além disso, o mega gasoduto “assegura a diversificação das exportações e protege Moçambique e as economias da região dos choques externos do comércio global de GNL”.
Implica ainda “a aceleração da transição energética, segurança e melhor acesso a combustível mais barato, mais limpo e amigo do ambiente para os sectores agrícola, comercial, doméstico, industrial e de transportes”, o que resulta, na visão de Agbley, na “competitividade global dos sectores manufactureiros e outros sectores industriais em Moçambique e na região da SADC”, com “a melhoria da produtividade agrícola e transformação rural”.
Com as extensões previstas a partir do gasoduto principal, Agbley prevê ainda “um grande impulso nos sectores de produção de aço e de mineração”, e, por fim, a geração de “centenas de milhares de empregos, melhores rendimentos e padrões de vida mais elevados para os cidadãos”.