Dois jovens cabo-verdianos já transformaram de forma artesanal 7,5 toneladas de óleo de cozinha usado, em sabão e detergente e esperam tornar a “Biodosa” na maior empresa ecológica do país.
Alex Mascarenhas e Deritson de Pina terminaram a licenciatura em Engenharia Química e Biológica na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) em inícios de 2018 e não perderam tempo em colocar em prática os ensinamentos do curso, designadamente os princípios da reciclagem, que são os quatro ‘R’: reciclar, reduzir, reutilizar e recuperar.
E, nas pesquisas de mercado, já com intenção de criar a própria empresa, verificaram que Cabo Verde é um país “ecologicamente fraco”, com muitos resíduos, como plástico e papel, em que a solução é a queima ou o depósito em aterro sanitário.
E há também o óleo de cozinha usado, que é ainda mais poluente, tendo os jovens encontrado aí o “ponto forte” para criar a Biodosa, empresa que, durante o resto de 2018, funcionou de forma experimental, à procura de apoios e realização de estudos. Fez o registo em janeiro de 2019 e começou, oficialmente, a actividade no mês seguinte.
Segundo Deritson de Pina, de 26 anos, havia muitas soluções para a reciclagem do óleo de cozinha usado, como produção de velas, óleo de engrenagem, combustível, mas “o caminho mais fácil” foi a sua transformação em sabão e detergente, dois produtos ecológicos e biodegradáveis.
E o trabalho no terreno começou com os principais restaurantes da cidade da Praia, com apresentação do projecto e recolha dos óleos usados para reciclagem, num processo artesanal, que acontece na casa do outro sócio da empresa, Alex Mascarenhas.
Para chegar ao sabão e detergente, o óleo passa por várias etapas, desde a filtração e decantação, para expelir todos os resíduos, seguindo depois o tratamento para retirar o cheiro e a cor preta, descreveu Deritson de Pina.
Em menos de três anos de funcionamento, os jovens já recolheram cerca de nove mil litros de óleo em restaurante e particulares na cidade da Praia, dos quais reciclaram perto de 7,5 toneladas, evitando que esse resíduo chegue à natureza ou aos canos de esgoto.
Por mês, a Biodosa produz em média 1500 sabões de barra e vende também uma média de 1000, a um preço de 40 escudos (0,36 cêntimos do euro) na fábrica e 30 escudos (0,27 cêntimos do euro) para os revendedores, segundo Deritson de Pina.
Apesar de já ter vários clientes, entre eles os principais minimercados da Praia, o sócio da empresa salientou que ainda há “muita resistência” em Cabo Verde relativamente aos produtos ecológicos e feitos no país.
Por isso, além da reciclagem, a empresa aposta forte na consciencialização das pessoas para a proteção ambiental, prosseguiu o jovem empresário, lembrando que um litro de óleo contamina um milhão de litros de água.