Os insurgentes jihaditas, tal como fazem em Moçambique, colocaram nas redes sociais, vídeos sobre um ataque à Tanzânia, havendo quem receie que esta incursão possa dificultar uma eventual intervenção da região em Moçambique, porque não vai ser fácil actuar em duas frentes, em simultâneo.
Entretanto, analistas admitem que o ataque à Tanzânia, atribuído a insurgentes que actuam no norte de Moçambique, poderá mobilizar a SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) a responder, como região, ao conflito em Cabo Delgado, assim como contribuir para uma cooperação mais séria entre Dar-Es-Salam e Maputo na luta contra os jihadistas.
O argumento de que o ataque à Tanzânia pode impedir uma intervenção em Moçambique é que o conflito em Cabo Delgado estava confinado a uma área geográfica característica e os insurgentes não iam para além de 100 quilómetros, entre o rio Rovuma e o Oceano Indico porque as Forças de Defesa e Segurança (FDS) tinham estabelecido uma espécie de cinturão de segurança nos distritos mais ao sul, como Montepuez e Mueda, incluindo a cidade de Pemba.
A SADC não tem tropas porque os países membros não querem, mas alguns desses países têm tropas na União Africana
O analista Borges Namire diz que isso pode ser verdade, mas o ataque à Tanzânia fará com que a região acorde para a realidade complexa de Cabo Delgado, mesmo sabendo-se que a SADC não tem tropas.
Ele lembra que “a SADC não tem tropas porque os países membros não querem, mas alguns desses países têm tropas na União Africana”.
Na opinião daquele analista, havendo vontade “pode-se criar a força da SADC; isso chama-se politização dos assuntos. Neste momento, a questão dos ataques terroristas ainda não tinha entrado na agenda de segurança da região”.
O político Raúl Domingos diz que há já bastante tempo que se vinha apelando à intervenção da SADC no conflito em Cabo Delgado, “que constitui uma evidência de terrorismo internacional”.
Domingos realçou não se tratar de um problema apenas de Moçambique “porque esses grupos vêm do norte de África e as suas actividades incluem também o tráfico de drogas, sendo por isso necessária uma acção combinada ao nível dos países da região; é muito provável que os insurgentes se tenham também infiltrado na África do Sul”.
“Eu confesso que o ataque à Tanzânia não é surpresa para mim, precisamente porque já vínhamos discutindo a alegada conivência dos tanzanianos em relação a este grupo de insurgentes em Moçambique, e eu dizia que era um erro de cálculo e duvidava que os tanzanianos estivessem a dar um apoio a este grupo”, disse o analista Calton Cadeado.
As autoridades moçambicanas ainda não comentaram o ataque jihadista à vizinha Tanzânia.