No centro de Moçambique, na zona limite sul do Grande Vale do Rift, o Parque Nacional de Gorongosa alberga uma das maiores concentrações de vida selvagem em África. Mas para os funcionários do parque, a protecção da vida selvagem é apenas uma das várias preocupações e responsabilidades que acargam. As lutas sócio-económicas são inúmeras e em 2020 deparam-se com um novo problema, a Covid-19.
O Parque Nacional de Gorongosa nem sempre foi um refúgio de vida selvagem, muito pelo contrário.
Em 1920, pelas mãos dos portugueses, foi declarado como uma reserva de caça. Só em 1960 é que o governo português decretou a reserva como Parque Nacional.
No entanto, a Guerra Civil (1977-1992) veio quase destruir na totalidade a sustentabilidade do território. Em 1981, o Parque Nacional de Gorongosa foi campo de batalha da guerra civil, durante nove anos. Soldados de ambas as partes caçavam elefantes pelo seu marfim (o produto era vendido e com o dinheiro compravam mais armas), zebras, búfalos, entre outros para se alimentar, e os leões, por falta de presas ou vítimas de caça furtiva, acabaram por sucumbir em grande parte.
No rescaldo da guerra, mais de 90% dos mamíferos do parque tinham desaparecido. Apenas a diversidade de aves permaneceu mais ou menos intacta.
Os voluntários estão a trabalhar com a equipa de saúde para aumentar o acesso à água potável, melhorar o saneamento e ensinar técnicas eficazes de lavagem das mãos, organizando e servindo em equipas de WaSH da comunidade
Vários esforços foram feitos depois da guerra para reabilitar o parque, mas apenas em 2004 se começou seriamente a trabalhar para esse objectivo, com o filantropo americano Greg Carr a fazer uma parceria com o governo moçambicano para restaurar a densidade animal e a vida ao parque.
Pedro Muagara é actualmente o director do Parque Nacional da Gorongosa. Em 2006, ao sobrevoar o terreno de helicóptero disse que viu “um desastre”. Demorou duas semanas até ver um elefante e um mês para ver um leão. Desde aí, muito mudou.
Esforços para combater a desigualdade de géneros
Hoje, representa muito mais do que apenas uma área de preservação sustentável da vida animal, é também um foco de desenvolvimento social. Criaram-se programas que ajudam as mulheres das comunidades locais a ter um futuro promissor, com acesso a educação, para combater a desigualdade entre géneros. Larissa Sousa, a gestora do projecto, diz que a iniciativa oferece educação complementar a raparigas de idades compreendidas entre os 10 aos 16 anos de idade, proveniente de famílias desfavorecidas.
Moçambique tem uma das maiores taxas de casamento infantil do mundo. Larissa diz que o projecto encoraja as raparigas a não abandonar os estudos e casar. Ao terminar os estudos, as meninas podem ter melhores oportunidades de vida, contribuindo para uma quebra no ciclo de pobreza.
De acordo com a UNESCO, 58% das mulheres em Moçambique são analfabetas, comparando com 45% ao analisar a população do país por inteiro. Sousa aponta para um facto interessante: “Se a mãe for educada, vai se certificar de que os filhos também o sejam”.
Além disso, um terço dos funcionários do parque são mulheres. O objectivo é chegar aos 50%.
Combate ao Covid-19
Normalmente, os profissionais de saúde do Parque Nacional de Gorongosa prestam serviços a cerca de 100 000 pessoas que vivem nos arredores do parque. Este ano, com a propagação do novo coronvírus, os funcionários trabalham sem parar. É preciso ajudar as comunidades locais a combater a disseminação do Covid-19.
Os voluntários estão a trabalhar com a equipa de saúde para aumentar o acesso à água potável, melhorar o saneamento e ensinar técnicas eficazes de lavagem das mãos, organizando e servindo em equipas de WaSH da comunidade. Estas equipas estão posicionadas em furos d’água, equipadas com material para lavagem das mãos e outros recursos destinados a prevenir a propagação. Alguns dos itens adicionais incluem uma das 3 000 máscaras faciais produzidas pela equipa do Parque para proteger os seus trabalhadores e pessoas nas comunidades da Zona Tampão do PNG do Covid-19.
A Associação Ajudar Moçambique é responsável pela doação de equipamento de protecção individual incluindo luvas, máscaras e vestuário de protecção.
O Covid-19 é uma ameaça séria para as pessoas que vivem na Zona Tampão do Parque Nacional da Gorongosa, especialmente em comunidades com sistemas de saúde em dificuldades. A Zona Tampão do Parque é servida por um pequeno hospital, 28 clínicas de saúde e 375 profissionais de saúde e voluntários. Os profissionais de saúde ficam estacionados nas clínicas de saúde e realizam 20 sessões clínicas móveis mensais em áreas remotas.
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