A insegurança alimentar em Cabo Delgado, província no norte de Moçambique palco de ataques armados, foi ontem destacada como uma das situações mais “preocupantes” na África Austral pela directora regional do Programa Alimentar Mundial (PAM), Lola Castro.
A escassez de comida chegou a níveis “particularmente preocupantes” e a província transformou-se numa “forte prioridade”, referiu durante uma conferência de imprensa com correspondentes estrangeiros na África do Sul, citada por agências de informação internacionais.
“A ajuda nem sempre consegue chegar a alguns distritos do nordeste” e o PAM tenta encontrar alternativas para “alcançar os inacessíveis” e fornecer-lhes “ajuda alimentar, abrigo e proteção”, referiu.
Cabo Delgado enfrenta desde há três anos ataques de grupos armados que já fizeram mais de mil mortos e 250 000 deslocados, dos quais o PAM apoiou 195 000 em Julho, segundo dados daquela agência das Nações Unidas.
No mesmo mês, o PAM apoiou outras 165 000 pessoas no resto do país, devido aos efeitos das condições atmosféricas.
A covid-19 foi um choque adicional para o qual obviamente não estávamos preparados
A África Austral assiste, “ano após ano, a secas, cheias ou ciclones”, como aconteceu no ano passado, quando os ciclones Idai e Kenneth atingiram Moçambique e outros países da região.
“A covid-19 foi um choque adicional para o qual obviamente não estávamos preparados”, acrescentou.
Além de Moçambique, no mapa da África Austral aquela responsável destacou a grave situação do Zimbabué, país com 16 milhões de habitantes e com as piores estatísticas de falta de alimentos, com cerca de 4,3 milhões de pessoas a precisar de ajuda urgente.
O contexto comum aos países vizinhos é agravado por uma prolongada crise sócio-económica.
Lola Castro referiu que em toda a África Austral, entre os próximos meses e 2021, a insegurança alimentar pode atingir níveis “que já não se verificavam há vários anos”, atingindo 44,8 milhões de pessoas (em comparação com 41,2 no ano passado) sobretudo devido à seca e às dificuldades económicas ligadas à pandemia causada do novo coronavírus.
Agência Lusa